Acústica para coworking: privacidade, produtividade e inovação
Trabalhar em um escritório compartilhado já é uma realidade para muitos profissionais do Brasil. O país conta com 1.194 espaços de coworking – espalhados principalmente pelas capitais, mas também por outras cidades de todos os estados – e frequentados mensalmente por cerca de 214 mil pessoas.
Com um crescimento expressivo nos últimos três anos, o mercado de coworking já movimenta mais de R$ 127 milhões. E entre as vantagens que atraem freelancers, empreendedores individuais e outros profissionais para esses escritórios compartilhados estão:
- Um valor de aluguel mais acessível quando comparado ao de um escritório completo – o que faz muita diferença principalmente para pequenos empresários;
- A facilidade de se reunir com clientes em um ambiente mais profissional;
- Mais foco e concentração, evitando problemas comuns do home office como distração e dificuldade de separar o que é trabalho do que é tarefa doméstica;
- Maior possibilidade de networking e interação com outros profissionais.
Para atender essas necessidades dos frequentadores, o desafio de quem tem um coworking é montar um espaço que ofereça conforto, privacidade e os recursos necessários para que os profissionais possam realizar suas tarefas com produtividade e tranquilidade. E nesse contexto, a acústica tem um papel fundamental como veremos a seguir.
Leia também: Acústica para escritórios: como adequar o som e melhorar a produtividade?
A importância da acústica para coworking
Alguns dos benefícios do coworking mencionados acima como o ganho de foco e o ambiente adequado para receber clientes estão diretamente relacionados ao conforto acústico.
A acústica de ambientes corporativos – seja um escritório tradicional ou um coworking – depende muito do layout do espaço. Ambientes com layout modular e presença de divisórias tendem a apresentar um desempenho acústico mais satisfatório e oferecer mais privacidade. Já os escritórios panorâmicos ou de planta livre facilitam a visualização do espaço como um todo e a integração entre equipes, mas podem trazer prejuízos do ponto de vista do conforto acústico.
No caso dos ambientes de coworking, os layouts variam bastante de acordo com a proposta do espaço. No entanto, é comum a existência tanto de espaços mais panorâmicos para o trabalho em geral, quanto de ambientes modulares para realização de reuniões e videoconferências com maior privacidade. Aliás, aqui vale lembrar que a questão da privacidade sonora ganha ainda mais importância nos escritórios compartilhados, uma vez que estamos falando de negócios diferentes e não de uma única empresa.
Soluções acústicas para espaços de coworking
A acústica de um escritório compartilhado pode ser tratada a partir de sistemas de isolamento vibro-acústico, com soluções para o isolamento de transmissões diretas e indiretas, além do isolamento ao ruído e vibrações de máquinas e equipamentos, e instalações hidráulicas, que se apresentam como problemas frequentes.
Também é necessário realizar o tratamento acústico a partir do equilíbrio das superfícies de reflexão e absorção, com indicações de materiais de revestimento adequados. Além disso, em muitos casos, pode-se igualmente recorrer ao mascaramento artificial do som, acrescentando um som ambiente ou ainda um ruído que contém uma ampla faixa de frequências, mas sempre com um nível baixo de forma a reduzir a nitidez da fala e, consequentemente, evitar distrações a partir de uma maior confidencialidade no espaço de trabalho.
No desenvolvimento e execução do projeto acústico é fundamental planejar a setorização interna do espaço de modo a resguardar os ambiente mais sensíveis do coworking, como as já mencionadas salas de reunião, dos demais ambientes. Aqui é preciso estar atento a todo e qualquer tipo de transmissão de ruídos entre os ambientes, o famoso isolamento acústico: como por exemplo utilizar forros rebaixados que não compartilham o mesmo plenum entre salas (espaço entre a laje e o forro). Caixinhas de tomadas na parede que coincidem em 2 salas, e ar condicionados podem ser um ponto falho no sistema, gerando passagem do ruído. Outras alternativas incluem a instalação de sistemas de piso flutuante para salas de equipamentos de informática e clausuras que isolam máquinas mais ruidosas.
Outro ponto que merece especial atenção são as tubulações, dutos e conexões que cruzam os pisos ou paredes e que podem ocasionar problemas de ruído se não forem recobertos com material adequado.
Drywall, um grande aliado da acústica para coworking
Bastante utilizado na construção civil, o drywall é um material extremamente versátil e moderno, além de contribuir significativamente para o conforto acústico se combinado com outros materiais em sistemas massa-mola-massa.
Além disso, o drywall possui configurações que variam de acordo com a largura dos perfis estruturais (48mm, 70mm ou 90mm), e a forma que será montado, sendo parede simples ou dupla. O material também possibilita a alteração do número de placas assim como o tipo de placa. Existem placas resistentes à umidade (RU), resistentes ao fogo (RF) e as padrão (ST), além da placa fortíssima que é a mais espessa e tem 15 mm, em comparação com os 12,5 mm da placa ST. As placas de gesso são fixadas em cada lado da estrutura metálica que pode ser de steel frame, que suporta maiores cargas, para trabalhar o isolamento acústico em sistemas modernos.
Em coworkings, o uso do drywall auxilia principalmente na redução do tempo de montagem do escritório. Tudo isso de forma altamente projetável e sem perder a qualidade necessária para que espaços como recepção, salas de trabalho e reuniões. Nos espaços compartilhados o desafio é o tratamento acústico adequado, que depende do volume do ambiente, dos revestimentos e também da quantidade de pessoas no local.
Além disso, o drywall não auxilia apenas no isolamento acústico, mas também no térmico. O que pode, em muitos casos, reduzir o uso de ar condicionado.
O isolamento acústico como elemento estético do coworking
Ao falarmos de coworking logo nos vem à mente um espaço despojado, com um design moderno e inovador. E, ainda não que isso não seja regra entre os escritórios compartilhados, a questão estética desse tipo de ambiente tende a transmitir essa ideia de criatividade.
Nesse contexto, o condicionamento acústico pode não apenas cumprir o seu papel prático, como também agregar ao design de interior. O mercado de materiais acústicos oferece um leque cada vez maior de opções esteticamente interessantes como nuvens, blocos acústicos suspensos, revestimentos de parede utilizando materiais sustentáveis, etc. Esses elementos podem ser usados de maneira personalizada e diferenciada, e assim, contribuir para reforçar a identidade do coworking.
Algumas das alternativas interessantes que temos pesquisado e que estão fazendo sucesso na China, por exemplo, são os Sound Booths (Cabines acústicas). Ou seja, salas de reunião e de videoconferência dentro dos escritórios de planta aberta. São salas com tratamento térmico e acústico que garantem privacidade sem perder o contato visual e sem investir em infra-estrutura extra. É só plugar na tomada e fechar a porta que você pode ter privacidade sonora com ar condicionado, internet e segurança.
Normas técnicas de acústicas aplicáveis aos espaços de coworking
No dia 26 de Junho de 2017 entrou em vigor a norma técnica NBR 3382-3 nomeada Acústica – Medição de parâmetros de acústica de salas. Parte 3: Escritórios de planta livre. Essa norma estabelece um procedimento de medição em salas Open Plan, e são basicamente realizadas quatro avaliações por ponto de medição:
- Nível de pressão sonora do ruído rosa em banda de oitava, Lp,Ls;
- STI (Índice de Transmissão da Fala);
- Nível de pressão sonora do som residual em bandas de oitava, Lp,B;
- Distância da fonte sonora, r.
Em cada posição esses quatro parâmetros dão uma ideia de quão intenso é o nível do som, em que frequências esse som se dá, qual é a inteligibilidade da voz de outra pessoa falando a uma certa distância e qual é o ruído remanescente no ambiente na ausência de pessoas. Com isso pode-se fazer um modelo computacional e avaliar em detalhes o efeito da colocação de materiais acústicos ou ainda de barreiras segmentando o escritórios em células.
Veja um exemplo de medição de decaimento sonoro em uma linha de pontos de medição e em um caso não linear que coletei do projeto da norma que foi a consulta nacional.
Uma das avaliações interessantes é a distância de distração (rd), que é a distância do orador em relação ao ouvinte de forma que o índice de transmissão da fala (STI) está a 0,50, ou seja, a partir desta distância se entende menos que 50% do que o orador fala, e portanto se consegue ter maior concentração. Já a distância de privacidade (rp) se dá quando o STI é menor que 0,20 e portanto praticamente não se entende nada do que o orador disse. Veja um exemplo de como esses dados são mostrados no relatório.
Conclusão
Se você já possui ou planeja montar um escritório compartilhado, lembre-se que investir em acústica para coworking deve ser a prioridade do seu negócio. Afinal, a privacidade em ambientes comerciais e o conforto sonoro são fundamentais para que profissionais possam trabalhar com tranquilidade e executar suas tarefas de maneira produtiva. A busca por um ambiente mais silencioso e com menos distrações é, inclusive, um dos principais motivos para o profissional trocar o home office pelo coworking. Ou seja, não há como atrair frequentadores para o seu espaço sem tratamento acústico.
Já se você é um profissional da área de acústica, o crescimento do mercado de coworking pode ser uma excelente oportunidade para aumentar sua clientela e trabalhar em novos projetos. Mas para isso, é fundamental que você esteja atualizado sobre as principais tendências e soluções do mercado de acústica, além das normas utilizadas para fazer as medições em diferentes tipos de edificações.
Uma dica é conhecer o nosso Experts Program of Building Acoustics – EPBA – que é um programa de treinamento em acústica de edificações voltado para profissionais entrantes no mercado de acústica e estudantes das últimas fases dos cursos de graduação. Confira mais informações sobre a próxima turma.
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