O impacto do Isolamento social contra a COVID-19 na poluição sonora no planeta
Estudo promovido pelo Portal Acústica exibirá efeitos da redução do barulho no Brasil
Diversos aspectos da vida em sociedade mudaram com a pandemia da COVID-19 e com as ações de isolamento social para desacelerar a propagação da doença.
Essas mudanças também impactam na emissão de ruídos em ambientes urbanizados, sendo que já foram registradas diferenças nos níveis de barulhos emitidos em grandes cidades. Por conta disso, cientistas e especialistas em acústica têm aproveitado o momento de isolamento social para fazer estudos sobre outro mal invisível que atinge a sociedade: a poluição sonora.
Neste texto você vai saber mais sobre como o isolamento social contra a COVID-19 tem influenciado na emissão de ruídos, além de obter mais informações sobre o estudo que o Portal Acústica está realizando para medir a poluição sonora durante e após a quarentena.
COVID-19, isolamento e silêncio
Desde que foi iniciado o isolamento social como forma de combater o avanço desenfreado do coronavírus, especialistas de diversas áreas e mesmo pessoas comuns começaram a notar uma nítida diferença nos níveis de ruído. Em São Paulo, a maior cidade do país, diversas pessoas relatam que o barulho diminuiu nas ruas – e a própria Associação Brasileira de Qualidade Acústica tem registrado uma média de 10 dB a menos nas principais vias da capital paulista. A sensação real, segundo moradores, é de que o barulho caiu pela metade.
O mesmo efeito tem sido percebido no resto do mundo. Segundo sismólogos de diversos países, a diminuição das ações e das vibrações humanas reduziu até mesmo a atividade sísmica da Terra – e está lhes possibilitando “ouvir” terremotos de pequena magnitude que, sem o isolamento social, seria impossível detectar. Com menos ruídos de carros, de ônibus, de trens e mesmo de pessoas andando e falando, as ruas do Reino Unido, da França, da Bélgica, da Nova Zelândia e da China estão muito mais silenciosas.
A natureza também já vem dando alguns sinais do que pode ocorrer se diminuirmos permanentemente a poluição sonora: os próprios oceanos estão mais silenciosos devido à menor quantidade de embarcações navegando. Esse silêncio pode beneficiar diversas espécies de animais marítimos que costumam liberar mais hormônios e aumentar os níveis de estresse quando estão sob forte ruído – o que prejudica fortemente a reprodução. Se mesmo os biólogos e cientistas especializados em vida animal estão atentos aos benefícios da redução do barulho, como não podemos avaliar as mesmas consequências em humanos?
Um retrato da poluição sonora no Brasil
Para medir o impacto do isolamento social nos níveis de poluição sonora, nós, do Portal Acústica, tivemos a ideia de realizar um estudo nacional conjunto e que pode trazer grande impacto para a nossa sociedade.
A proposta é que colaboradores, parceiros, consultores e profissionais de acústica de qualquer grande cidade brasileira façam duas medições do som em locais de grande circulação: uma durante o período de quarentena e outra fora do período de quarentena.
O resultado destas medições fornecerá um retrato perfeito de quais são os efeitos do ruído em nossas cidades e na população em geral. Para tanto, os colaboradores da pesquisa devem utilizar as normas da NBR 10.151 e seguir algumas outras recomendações.
Sobre o uso da NBR 10.151, vale destacar que a norma que trata da medição e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas é uma das principais ferramentas dos profissionais que precisam redigir um laudo de acústica.
Independentemente de participar ou não deste estudo, se você atua na área e quer ficar por dentro de todas as atualizações e especificações da norma, não deixe de conferir o Kit da NBR 10.151, oferecido pelo Portal Acústica.
Deseja participar da pesquisa que trará um retrato do ruído nacional na quarentena e pós-quarentena? Clique, saiba mais e se inscreva!
Os resultados das medições da pesquisaserão compilados em um artigo especial que iremos inscrever e apresentar no 12º Congresso IberoAmericano de Acústica FIA 2020, a ser realizado em Florianópolis, Santa Catarina, entre os dias 23 e 26 de maio de 2021 (inicialmente marcado para setembro deste ano, o congresso foi adiado devido ao coronavírus). O Congresso IberoAmericano de Acústica faz parte de uma série de atividades e encontros que estão ocorrendo ao redor do globo e que fazem alusão ao Ano Internacional do Som (International Year Of Sound), promovido pela Comissão Internacional de Acústica ao longo de 2020 nos moldes dos anos internacionais promovidos pela UNESCO.
Por que é importante medir os efeitos da poluição sonora na sociedade?
Classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a segunda pior poluição do planeta, a poluição sonora reúne características que a tornam tão prejudicial quanto é subestimada pela grande maioria das pessoas. Outros tipos de poluição que são visíveis a olho nu, como um ar carregado de sujeira ou uma água escura e de má aparência, logo afugentam qualquer um. Com a poluição sonora, é diferente: poucas pessoas reagem afastando-se instantaneamente do barulho. A reação interna do corpo humano, porém, é bem diferente.
Herança genética de outros tempos, nosso organismo interpreta o barulho como um sinal de perigo e reage à altura: libera as reservas de açúcar e gordura para que o corpo tenha energia e meios de se defender rapidamente. O resultado disto é um esgotamento tão veloz da energia que logo vêm o cansaço, a irritação e o estresse, seguidos de insônia, falha na memória e falta de concentração. As consequências a longo prazo são ainda piores – gripe e doenças mentais, cardíacas, respiratórias e até digestivas entram na lista de possíveis sequelas da poluição sonora.
O barulho de trânsito, como os provocados pelas buzinas e pelos escapamentos dos veículos, a música alta dentro do ônibus, o aparelho celular tocando no escritório, as obras civis com britadeiras e carpintaria. Sons comuns para qualquer cidade grande e até de médio porte, mas que trazem danos irreversíveis para o corpo humano. Para se ter uma ideia, enquanto uma conversa em tom de voz normal registra 60 decibéis (dB), qualquer ruído acima de 85 dB já provoca danos à saúde auditiva – o equivalente ao som de um liquidificador. O que dizer, então, do barulho provocado por uma motocicleta (90 dB), uma motosserra (105 dB) ou uma britadeira (130 dB, o suficiente para romper o tímpano)?
Não é à toa que a OMS calcula que 120 milhões de pessoas têm a audição prejudicada pela poluição sonora – com a exposição prolongada a sons a partir de 85 dB, as células auditivas começam a morrer de forma lenta e irreversível. O Brasil, por exemplo, é classificado pela própria OMS como o 5º país com maiores índices de poluição sonora.
Algumas cidades especialmente barulhentas da China, Coreia do Sul e do Japão relacionam o excesso de ruídos com as alarmantes taxas de suicídios locais. Os países escandinavos, por outro lado, onde a necessidade de silêncio é valorizada e respeitada, aparecem com frequência nas listas de nações cujos povos são os mais felizes do mundo.
Leia também: Problemas com barulho: o quanto a poluição sonora afeta a sua vida (e a sociedade)?
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[…] Escolhido como o Ano Internacional do Som, em 2020 ressaltou-se a importância das ciências e tecnologias sonoras além de destacar a necessidade do controle do ruído de equipamentos, controle da poluição sonora na natureza e nos ambientes construídos. Observamos que 2020 foi um tempo de mudanças em todas as áreas, incluindo a acústica além do tema mais comentado, a pandemia da Covid-19 impactou a todos e teve influência também na percepção sonora das pessoas. […]
[…] tornou uma realidade para muitos profissionais do Brasil e do mundo. Com a adoção das medidas de isolamento social para conter o avanço da Covid-19, empresas de diferentes segmentos adotaram o home office para continuar funcionando durante a crise […]
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