3 formas de Controle de Ruído
O conceito de som é muito amplo. Para a psicoacústica, o som é toda a vibração captada pelo nosso sistema auditivo que é interpretada como som no cérebro. Já o ruído é o som indesejado ou prejudicial à saúde. De fato, a exposição prolongada ao ruído pode provocar os mais diversos problemas, desde estresse, náuseas, dores de cabeça até hipertensão, distúrbios respiratórios, alterações na saúde física e mental e até mesmo a perda permanente de audição. Desse modo, evitar a longa exposição ao ruído é fundamental para o crescimento da qualidade de vida da população em geral. Nas indústrias o ruído é mais crítico e causa insalubridade.
É comum o alto nível de pressão sonora em fábricas, usinas, zonas de montagem, centros de distribuição de mercadorias, e até mesmo em grandes lojas e academias. Manter os funcionários durante longas horas da jornada de trabalho expostos ao ruído pode causar transtornos irreparáveis a sua saúde. A perda auditiva traz consigo dificuldades de comunicação e isolamento social. Como o ruído ocupacional é uma atividade passível de intervenção, diversas normas regulatórias têm o objetivo de controlar o ruído em ambientes de trabalho, como a NR15, do ministério do trabalho, a NHO 01 e a ISO 9612.
Em uma jornada de trabalho de 8 horas, permanecer ininterruptamente em exposição à mais de 90 dB de nível de pressão sonora ponderado em A traz consigo os problemas relatados, de modo que o ambiente é considerado insalubre. Porém os valores escalam de modo exponencial, 91 dB permite uma exposição de 6 horas e acima de 100 dB, ficar exposto por mais de 30 min já é considerado insalubre. Tudo depende do fator de dobra aplicado, que varia para questões laborais e previdenciárias. A questão é que muitos empregadores tem que arcar com 6% da sua folha para pagamento de valores relativos a essa exposição sonora recorrente para o INSS que já vai guardando para pagamento de aposentadoria especial.
Sabendo disso, o engenheiro acústico tem o trabalho de controlar o ruído nesses ambientes a fim de obter locais acusticamente adequados à jornada de trabalho dos funcionários. Em geral, são três as abordagens que podem ser executadas:
- Controlar o nível de potência sonora da fonte com intervenções diretamente nela, por meio de alguma modificação que diminua o ruído exercido por ela, como a realização de manutenções e mudança da frequência de operação.
- Controle de ruído no meio de propagação da onda sonora. Neste caso se criam clausuras e barreiras ou ainda pode-se adotar medidas administrativas e de gestão.
- Ou também o controle de ruído pode ocorrer no receptor, com o uso de protetores auditivos, ou ainda através de proteções na edificação que contém o receptor.
1. Controle de ruído na fonte
Uma máquina numa fábrica produz ruído de diversas formas distintas. Vibrações sendo transmitidas para o piso, hélices e engrenagens mal calibradas, atritos e impactos causados por peças do maquinário, rolamentos, dentre tantas outras formas, e para cada uma delas existe uma solução diferente.
Em primeiro lugar deve-se identificar a principal causa do ruído e então verificar a possibilidade de atuar na fonte, já que esse é o jeito mais eficaz de controlar o ruído. Embora já existam equipamentos que conseguem identificar com facilidade o local de maior nível de pressão sonora, as chamadas câmeras acústicas, que utilizam técnicas de beamforming, nem todos têm acesso, uma vez que o equipamento é de custo elevado. Entretanto, algumas câmeras de baixo custo tem aparecido, entretanto, fique atento ao tamanho e faixa de frequência de operação. Então a verificação deve ser feita com um sonômetro, medindo diversos pontos a fim de avaliar os locais com maior nível de pressão sonora e consequentemente maior intensidade. Uma avaliação subjetiva também é requerida em alguns casos, mas a determinação da potência sonora em campo pode ser realizada sem o uso de sondas de intensimetria. O engenheiro deve saber avaliar o maquinário e entender o problema, além de buscar formas de resolvê-lo.
Vibrações podem ser controladas através de uma base de inércia. Esta base é instalada embaixo do maquinário e apresenta peso elevado. Nela, molas helicoidais irão absorver a energia dinâmica gerada pela máquina e diminuir a vibração transmitida ao piso. Molas especiais podem ser projetadas para reduzir frequências de ressonância específicas, fazendo um controle com previsibilidade ao ter a informação da constante de mola. Conhecer a frequência de ressonância da máquina é necessário para escolher o melhor conjunto base de inércia + mola, aumentando a eficiência do controle de ruído.
Tubulações podem ser outra grande fonte de ruído. Acoplamentos flexíveis e mufflers podem ser instalados para diminuir a transmissão sonora. Máquinas que utilizam algum tipo de hélice também podem ser um problema. Ajustar a velocidade das hélices pode ser um meio de diminuir o ruído sem onerar muito o projeto, porém a eficiência do sistema pode ser prejudicada. A mudança das hélices para algum modelo de tamanho ou número de pás diferentes pode ser o ideal para a redução do ruído sem perder a eficiência do sistema. A mudança e calibragem de engrenagens e mancais também é uma forma eficiente do controle de ruído. Há de se verificar se liners, ou seja, materiais de absorção sonora para tubulações podem ser usados para reduzir o ruído tonal de passagem de pás (BPF – blade passage frequency).
Máquinas que produzem impacto são outros grandes causadores de ruído em amplo espectro de frequência. Desse modo deve-se verificar a possibilidade de amortecer os impactos causados. A mudança do material de um martelo pode ser suficiente para a diminuir o nível de pressão sonora produzido, assim como a instalação de materiais de absorção na área de impacto. Materiais elásticos podem ser instalados nos locais onde há transmissão de vibração, diminuindo o ruído.
2. Controle de ruído no meio de propagação
Quando o controle de ruído na fonte não é possível, intervenções no caminho de propagação da onda sonora podem ser necessárias. Criação de clausuras é uma boa forma de impedir que o ruído se espalhe para áreas ao redor da fonte sonora. O enclausuramento da fonte sonora nada mais é que a criação de barreiras em todas as direções. Para esse método deve-se levar em conta o tipo do maquinário e como ele é operado. Máquinas que precisam de atenção constante não devem ser enclausuradas sem um tratamento especial dentro da cabine que contém o operador, pois o mesmo pode precisar ficar tempo demais no local de alto nível de pressão sonora. Da mesma forma, uma clausura para uma máquina grande pode ser inviável, tanto por questão de custo como de praticidade. Porém para máquinas menores que não necessitam de um operador, uma clausura pode ser uma técnica que apresenta grande eficiência, se a via de propagação é principalmente aérea. Escolher os materiais certos para a construção da clausura é fundamental para aumentar a eficiência do sistema sem onerar demais o projeto, além disso, algum material de absorção sonora pode ser instalado no seu interior, diminuindo as reflexões e por consequência a vibração.
Barreiras acústicas atuam da mesma maneira que uma clausura, porém de forma parcial. Podem ser úteis para diminuir a transmissão sonora entre setores de uma fábrica, por exemplo, diminuindo o nível de pressão sonora global, mas seu uso deve ser estudado finamente antes da implantação.
Pensando na fonte sonora como sendo a fábrica e o receptor a vizinhança, a criação de barreiras acústicas no caminho, como muros, pode ser uma solução mais barata que o isolamento acústico da fábrica em si, porém esse tipo de controle não tem a mesma eficiência que um projeto de isolamento acústico da máquina.
3. Controle de ruído no receptor
Por fim, o controle de ruído diretamente no receptor pode ser inevitável. A distribuição de EPIs, como protetores auriculares, entre os trabalhadores, e o controle para que os mesmos utilizem os equipamentos é necessário em qualquer ambiente com nível de pressão sonora muito elevado. A escolha do melhor modelo depende do local de trabalho, podendo ser inclusive utilizado protetores auriculares do tipo tampão em conjunto com o protetor do tipo concha.
A instalação de janelas acústicas na vizinhança também é considerada como controle de ruído no receptor, sendo esse um método que pode ser indispensável. Tenhamos como exemplo as máquinas exaustoras de um edifício, gerando ruído para o prédio vizinho. De acordo com as normas reguladoras, erguer um muro ou criar uma clausura ao redor delas irá diminuir a luz solar na janela vizinha. Atuar diretamente na fonte irá enfraquecer o sistema, o que causará um grande custo operacional e de manutenção. Desse modo, oferecer aos vizinhos janelas acústicas pode ser um método de controle de ruído eficaz e mais barato a longo prazo do que atuar diretamente na fonte.
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