Eco e Reverberação: Qual a diferença?
Arquiteto + Eng. Acústico = Bom projeto
Quando pensamos em um projeto arquitetônico, temos em mente sua estrutura e principalmente o design. O desenho do arquiteto na maioria das vezes nos surpreende em todos os sentidos, principalmente a visão. Contudo, diversas vezes o fator acústico é deixado de lado por não ser tangível e visual, o que acaba por prejudicar o projeto final. O ambiente projetado deve propagar o som de forma clara e inteligível, mas isso só é possível quando especialistas estão na equipe. Um ambiente com uma acústica ruim pode ser considerado inutilizável para eventos de grande porte, como auditórios e casas de shows. Pode pegar muito mal e causar uma impressão muito ruim do estabelecimento se a acústica é pobre.
Essa preocupação com a acústica é historicamente consolidada. As grandes igrejas e teatros da antiguidade possuíam a acústica perfeita, pois eram desenhadas de maneira a reverberar o som sem causar ecos. As ondas sonoras chegavam de forma inteligível aos ouvidos dos espectadores, principalmente em teatros ao céu aberto. Com o advento dos teatros em recintos fechados, o público precisava ficar muito perto dos artistas para conseguir ouvir bem o que se falava. Nisso, foram criadas as galerias que permitiam melhor visão e audição. Entretanto, para comportar muitos espectadores, os teatros, igrejas e casas de concertos devem atentar a outros problemas acústicos, como ecos, falta de claridade e de ganho.
Para lidar com esses problemas, tanto o arquiteto quanto o designer de interiores e o engenheiro acústico devem trabalhar em conjunto, desde a concepção inicial do ambiente! Somente assim o ambiente poderá ser acusticamente confortável e evitar esses problemas acústicos. Isso vale principalmente para locais que visam atender uma grande quantidade de pessoas, como anfiteatros, e salas de conferência e outros já citados.
Tempo de Reverberação
O principal fator para quem pretende criar um ambiente ideal é compreender o tempo de reverberação do som e que diversos outros parâmetros técnicos dependem dele. Ao utilizar superfícies refletoras e materiais adequados que permitam que o som seja projetado ao público, se obtém uma sensação de maior intimidade com quem está palestrando, ainda com os músicos no palco. Um ambiente cheio de materiais de absorção não oferece esse tipo de experiência. Neste caso o ouvinte se sente mais isolado e excluído emocionalmente. A reverberação ideal depende do volume da sala e do objetivo de uso do espaço, basicamente. Para tal, estima-se o potencial de absorção de som com ou sem pessoas ao selecionar materiais de revestimento adequados para o ambiente. Esse processo leva em conta várias ferramentas de engenharia que oferecem uma razoável estimativa da qualidade do som no ambiente.
A reverberação é, em suma, a forma na qual o som se propaga. Ou seja, quando um som encontra obstáculos como as paredes ou até mesmo objetos e retorna, esse retorno é tão imediato que o ouvido humano não consegue perceber a diferença entre o som original vindo do orador e a reflexão vinda da parede. A intensidade do som em um determinado ambiente decai de acordo com a distância e de acordo com a quantidade de vezes que essa onda sonora bate no material. Materiais “mais acústicos” absorvem mais a onda sonora, e refletem pouco deste som, absorvendo muito dele. Mas entenda que é importante utilizar materiais “menos acústicos”, visto que o seu objetivo possa ser conseguir um maior alcance do som em um local grande sem usar um sistema eletroacústico (caixas de som) de grande porte.
E o Eco?
Mas qual é a diferença entre reverberação e eco? Uma vez que esse possui a mesma forma de produção que a reverberação do som, o eco é percebido por nós humanos como um atraso entre o som original e o refletido. Igual quando você grita na montanha e ela te responde. O eco não é favorável para ambientes, pois faz com que a inteligibilidade do som seja prejudicada. Logo, para evitar os ecos é preciso identificar as superfícies que produzem o mesmo e atuar de duas formas: utilizando objetos ou materiais que bloqueiem aquela superfície causadora do eco, e assim o som refletido chega mais rápido ao ouvinte; ou pode-se colocar um material de absorção “mais acústico” naquela superfície que gera o eco.
Veja no diagrama abaixo, tirado do livro do Egan, Architectural Acoustics, onde ele identifica a região que o eco causa incômodo (annoyance). Para isso acontecer, muito provavelmente o nível do eco é maior que o nível do som original vindo direto da fonte sonora. Ou ainda, o atraso entre o som original e o eco é grande, portanto perceptível. Se o atraso é pequeno entre os dois sons, não nos sentimos incomodados por esse “eco” e ele é percebido como uma reverberação. Essa reverberação também é conhecida como reverb pelos músicos (o que na verdade é até desejável).
Softwares Para Projetos
Uma das formas de calcular o tempo de reverberação e a qualidade do som em um ambiente é utilizando softwares especializados nesse segmento. Tanto o CATT-A como o Odeon são programas confiáveis e de fácil manuseio, auxiliando tanto na fase de projeto, quanto na correção de ambientes que já estão acusticamente prejudicados. Se quiser conhecer mais sobre o Odeon, veja alguns vídeos e informações técnicas clicando aqui.
Por fim colegas, existem outros parâmetros mais complicados, mas também utilizados no projeto de acústica de salas, especialmente em acústica para auditórios. Entre eles o STI (Speech Transmission Index) e o ALcons (Percentage Articulation Loss of Consonants), mas esse tema é mais avançado e podemos abordar em outro momento. Portanto, se você se interessou por esse assunto e quer aprender mais, entre na nossa comunidade do Facebook.
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Se você trabalha com simulação acústica ou está pensando em entrar neste mercado, eu gostaria de te fazer um convite. Estamos fechando a turma do único curso de Modelagem Acústica Ambiental do Brasil. Para saber mais, clique na imagem abaixo.
Olá Pablo!
Parabéns pelo excelente e objetivo artigo.
E quando o problema já existe, ou seja, a reverberação acústica entre aptos, por exemplo, de andares diferentes, 10 e 8 andar, sentem um o barulho do outro, há alguma solução “caseira” pra minimizar o desconforto?
Muito obrigado!
Douglas
Olá Douglas,
a questão é que a reverberação é um fenômeno que intensifica esse problema de propagação do ruído de um apartamento para o outro. O que acontence é uma propagação do som pela estrutura do prédio que vibra todas as paredes e piso. Se você não conseguir isolar o som no apartamento da pessoa que gera o ruído, você pode colocar o máximo de absorção sonora no seu ambiente receptor do som. Isso irá reduzir o “volume” do som neste ambiente que você está e minimizar o desconforto. Se o problema não for necessariamente de vibração de todo o prédio, o fechamento das frestas (janelas e portas melhores) resolvem a questão.
Fico ao seu dispor.
Obrigado e abraço!
Parabéns Pablo.
Estou super agradecido por sua atenção.
Recebendo meu e-mail, de imediato ligou para mim, mesmo estando em outro continente.
Venho acompanhando seus trabalhos e, dia após dia me interesso mais por acústica.
Muito embora o Brasil ainda gatinha em relação ao assunto, fazendo com que poucos tenha acesso a cursos, mas, você tem proporcionado ao mercado grande ajuda aos profissionais envolvidos.
Forte Abraço