Entenda a importância do projeto acústico para academias de ginástica
Academias de ginástica estão entre as principais fontes de ruído em áreas urbanas, influenciando a poluição sonora das cidades juntamente com o ruído de tráfego, obras, indústrias, comércios e serviços, máquinas e equipamentos em geral.
O impacto sonoro na vizinhança de academias, onde são desenvolvidas atividades esportivas diversas, é um dos motivos justificadores dos investimentos em isolamento acústico: evitando conflitos e a paralisação das atividades devido ao ruído. Tal investimento pode resultar no aumento do período de funcionamento destes estabelecimentos, uma vez respeitados os limites de ruído de acordo com a classificação da área urbana. Com um período de funcionamento maior, a capacidade do estabelecimento aumenta, trazendo efeitos positivos ao faturamento.
Academia Primal Gym, Leeds, Inglaterra
Fonte: https://www.tvs-gymflooring.com/case-study-primal-gym/
Além do impacto sonoro na vizinhança, outro fator que justifica o investimento para adequação acústica de academias é o conforto e a qualidade sonora nos espaços internos propiciados aos professores e alunos. A adequação acústica de academias de ginástica traz benefícios ao espaço e maior conforto aos usuários que, muitas vezes, ficam expostos a elevados níveis de pressão sonora, comprovadamente prejudiciais para a saúde auditiva, mental e corporal.
Academias de ginástica, quando em aula, podem chegar a níveis de pressão sonora muito elevados. Em alguns casos [1], podem inclusive aproximar-se ao limiar determinado pelo Anexo I da norma regulamentadora NR 15, que determina limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente. De acordo com a NR 15, a máxima exposição diária permissível para nível de pressão sonora equivalente a 85 dB (A) é de 8 horas. Para níveis acima de 85 dB (A), a norma NR 15 indica a necessidade de utilização de protetores auditivos. E será que os professores de spinning vão topar colocar um protetor auditivo?
Tabela 01 – Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente
Fonte: NR 15 – NORMA REGULAMENTADORA 15
Tendo em vista o impacto sonoro nos ambientes internos de academias e na vizinhança, quais devem ser os princípios norteadores do projeto acústico?
Princípios gerais de projeto e adequação acústica
Na elaboração de projetos para academias de ginástica, o projetista deve levar em consideração diversos critérios como, por exemplo, aqueles indicados pelas normas ABNT NBR 15848 (Sistemas de ar-condicionado e ventilação – Procedimentos e requisitos relativos às atividades de construção, reformas, operação e manutenção das instalações que afetam a qualidade do ar interior) e ABNT NBR 16401 (Instalações de ar-condicionado – Sistemas centrais e unitários). Além dessas, a portaria 3523/GM/1998 do Ministério da Saúde, que trata da qualidade do ar de interiores em ambientes climatizados, e a resolução RE-09/2003 da Anvisa, que regulamenta a portaria 3523.
No caso do projeto acústico, os valores de referência para ambientes internos de uma edificação, no caso específico de ginásios de esportes e academias de ginástica, são determinados pela ABNT NBR 10.152, e variam entre LAeq = 45 dB, valor representativo da condição de conforto, e 50 dB, para a situação com valores de pico e ponderados devido a equipamentos prediais (RLASmax). Se compararmos com a edição anterior da norma, de 1987, esta determinava para o caso de pavilhões fechados para espetáculos e atividades esportivas, valores ponderados entre 45 dB e 60 dB. Nota-se que o nível “aceitável” tornou-se mais restritivo com a revisão da referida norma.
O projeto de acústica para academias de ginástica tem como objetivo o controle ao ruído aéreo e de impacto entre os diferentes ambientes, e o ruído proveniente de equipamentos ou sistemas prediais (ar condicionado, ventilação, sanitários, elevadores, etc.). Além disso o ruído proveniente do ambiente exterior ou emitido para fora deve ser controlado para evitar problemas com os vizinhos.
Os ambientes internos da academia devem ser isolados e tratados de forma a evitar as transmissões entre salas. Frequentemente, as academias se propõem a ser espaços múltiplos, sendo necessário um projeto acústico que permita a flexibilização dos usos. As academias de ginástica abrigam uma diversidade de modalidades esportivas, que geralmente demandam soluções de projeto que atendam aos requisitos de desempenho acústico. Atividades ruidosas, como salas de spinning, dança, jump, musculação, piscinas indoor, coexistem com atividades sensíveis, como ioga, pilates e meditação. A transmissão do ruído entre ambientes – proveniente de música, conversação, aulas, e do ruído da vizinhança, podem ocorrer pela passagem direta via elemento separador (paredes, etc.), ou pela passagem indireta (pelos elementos em contato com o elemento separador principal – flancos). Frestas próximas a pilares, lajes e/ou paredes causam deficiências no projeto acústico e devem ser tratadas. Janelas, aberturas, portas e dutos de ar, também são elementos fracos de um projeto acústico e devem ser pensadas de modo a garantir a circulação de pessoas e de ventilação, mas podem ter proteção maior em ambientes meditativos. Tubos de água, eletrodutos, entreforros e entrepisos podem contar com soluções específicas de revestimento ou sistemas especiais que evitam o contato de lajes com elementos que vibram e transferem a energia que se transforma em som.
Kalorias Club Montijo, Setubal – estúdio AMATAM
Fonte: https://www.pinterest.ch/pin/334955291017481595/
Em academias de ginástica é frequente o ruído de impacto causado pelo arrastar de móveis, equipamentos, ou pela queda de objetos como barras e pesos, resultando na transmissão sonora via aérea e estrutura em função dos processos vibratórios associados ao choque. Lajes sujeitas ao impacto tornam-se elementos irradiadores de energia sonora em uma ampla faixa de frequências. Os efeitos de excitações dinâmicas devido ao impacto não se limitam aos ambientes localizados imediatamente abaixo da fonte. No caso de academias de ginástica, as vibrações podem ser percebidas a 30 metros de distância numa mesma laje, ou a 10 pavimentos abaixo da fonte [2]. Para redução destes efeitos, existem soluções de amortecimento ao ruído de impacto que podem ser utilizadas em sistemas de piso, como mantas acústicas específicas e sistemas de piso compostos por diversas camadas resilientes combinadas com camadas mais duras.
Muitas vezes, contra-paredes de reforço auxiliam no alcance ao Rw (índice de redução sonora da parede) adequado ao projeto. Sistemas de forro rebaixado com desconectores de vibração podem, igualmente, reduzir os efeitos da transmissão do ruído e excitações entre ambientes. Nesta categoria entram pendurais de sistemas de drywall que absorvem a energia de vibração em elementos emborrachados.
Veja mais sobre o tema no artigo “Contrapiso flutuante: chega de ruído!” publicado no blog Portal Acústica em 14 de junho de 2016: https://portalacustica.info/contrapiso-flutuante/
Fonte: https://www.freehousefitness.com/rebounding.html
Academias e espaços fitness localizados em edificações habitacionais
Para o caso de academias e espaços fitness localizados em edificações residenciais, as exigências são ainda maiores. Com relação ao desempenho de pisos ao ruído de impacto, por exemplo, quando da exigibilidade da aplicação da norma de desempenho ABNT NBR 15.575, devem ser adotados os critérios para os níveis de pressão sonora de impacto-padrão ponderado, conforme a tabela E.1 da parte 3.
Tabela E.1 – Critério e nível de pressão sonora de impacto-padrão ponderado, L’nT,w
Elemento | L’nT,w dB | Nível de desempenho |
Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas posicionadas em pavimentos distintos | 66 a 80 | Mínimo |
56 a 65 | Intermediário | |
≤ 55 | Superior | |
Sistema de piso de áreas de uso coletivo (atividades de lazer e esportivas, como home theater, salas de ginástica, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas e lavanderias coletivas) sobre unidades habitacionais autônomas | 51 a 55 | Mínimo |
46 a 50 | Intermediário | |
≤ 45 | Superior |
Fonte: ABNT NBR 15.575-3
A norma também estabelece critérios relativos ao isolamento quanto ao ruído aéreo dos sistemas de piso entre unidades habitacionais. Há recomendações para os casos de sistemas de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas comuns de uso coletivo, como exemplo as salas de ginástica.
Elemento | DnT,w dB | Nível de desempenho |
Sistema de piso entre unidades habitacionais autônomas, no caso de pelo menos um dos ambientes ser dormitório | 45 a 49 | Mínimo |
50 a 54 | Intermediário | |
≥ 55 | Superior | |
Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas comuns de trânsito eventual, como corredores e escadaria nos pavimentos, bem como em pavimentos distintos
Sistemas de piso entre unidades habitacionais autônomas, nas situações onde não haja ambiente dormitório |
40 a 44 | Mínimo |
45 a 49 | Intermediário | |
≥ 50 | Superior | |
Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas comuns de uso coletivo, para atividades de lazer e esportivas, tais como home theather, salas de ginástica, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas e lavanderias coletivas | 45 a 49 | Mínimo |
50 a 54 | Intermediário | |
≥ 55 | Superior |
Concluindo, ao projetar uma academia é sempre necessária a orientação de um especialista em acústica para evitar multas por poluição sonora, processos trabalhistas por insalubridade (altos níveis), e para evitar problemas e perda de clientes que moram próximos ao estabelecimento.
[1] MARCON, C. R.; ZANNIN, P. H. T. Avaliação do Ruído Gerado por Academias de Ginástica. Revista Engenharia e Construção, Curitiba, 2004.
[2] HOLANDA, R. V.; DUARTE, M. A. V.; BADAN, M. A. B. C.; PENA, J. L. DE O.; ROSA, R. C. Atenuação de radiação sonora em estrutura de concreto através da redução de vibração mecânica. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais. Vol. 11, no. 1, São Paulo. Jan./Feb. 2018.
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