Errata NBR 10151 e NBR 10152 publicadas dia 31/03/2020 – O que mudou nas normas técnicas?
Caros leitores, estamos a cada dia vivenciando uma mudança maior que outra. Entretanto, desta vez, não foram só os efeitos do Corona vírus que acabaram abalando a indústria nacional. Apesar da forte pressão para flexibilizar a norma técnica ABNT NBR 10.151 publicada em 2019, somente algumas alterações foram feitas, de forma que se mantém a flexibilidade no uso da norma com certos equipamentos. Na minha visão, manteve os critérios rígidos para novos equipamentos que entraram no mercado e foram fabricados a partir de 2013. Neste artigo vou abordar o que as erratas dizem, fazendo uma análise sobre o impacto delas no mercado. Por favor, comente abaixo com seus apontamentos.
Errata da NBR 10152:2017
Como é de conhecimento dos profissionais do ramo de acústica, a norma ABNT NBR 10152, abrange procedimentos de medição e de avaliação acústica em ambientes internos, de forma que estabelece referências para projetos e estudos envolvendo o conforto sonoro dependendo do uso dos ambientes internos. Se você quiser saber um pouco mais sobre essa norma, escrevemos um artigo falando sobre as atualizações que foram aplicadas na NBR 10152:2017 em relação à versão anterior. A errata publicada dia 31/03/2020 se refere à versão 2017 que até então era a versão em vigor. Vejamos o que mudou:
Relativo aos Medidores de Nível de Pressão Sonora
Se você não sabe o que é um Medidor de Nível de Pressão Sonora (MNPS), também chamado de sonômetro, leia o artigo sobre que sonômetro comprar no qual explico algumas particularidades sobre as normas da International Electrotechnical Commission – IEC, necessárias para o atendimento à NBR 10151:2019, de forma que os critérios são os mesmos para a NBR 10152:2017. Então grande parte das mudanças em uma norma se refletem na outra.
Foi inserida uma nota informativa a qual demonstra que independente da versão das normas IEC, o sonômetro deve atendê-las de acordo com o ano de fabricação do mesmo.
Ela fala o seguinte: “Na data da publicação desta Norma, a edição vigente da IEC 61260 é dividida em três partes (IEC 61260-1:2014, IEC 61260-2:2016 e IEC 61260-3:2016). A edição anterior desta Norma é parte única (IEC 61260:1995). Independente do ano e da edição, as normas IEC são requisitos pois cada instrumento é fabricado de acordo com a norma IEC vigente no ano de sua fabricação”.
A segunda nota também comenta sobre a atualização das normas eletrotécnicas. Há de se comentar que no mercado nacional dificilmente se acha equipamentos fabricados no território nacional que atendam à IEC 61672-2, o que gera muita dúvida e incerteza na hora de comprar um equipamento por parte de entrantes no mercado. Essa norma engloba a aprovação de modelo que exige uma infraestrutura laboratorial e testes com diversos equipamentos da mesma marca e modelo. Saiba mais sobre isso no artigo sobre sonômetros já citado.
Leia-se: “Sonômetros fabricados antes de 2002 atendem à IEC 60651 e IEC 60804, embora estas Normas tenham sido canceladas e substituídas pelas IEC 61672 (Partes 1, 2 e 3).”.
Houve também uma alteração sutil que inclui agora uma melhor explicação sobre a palavra sonômetro entre parênteses, de forma a deixar claro que essa nomenclatura é aplicada a um medidor integrador e um sistema de medição. Entretanto, incluiu-se uma frase dando permissão para uso de sonômetros mais antigos, desde que tipo ‘0’ ou tipo ‘1’, de forma que profissionais com equipamentos antigos, mas que ainda oferecem uma boa calibração, possam continuar exercendo suas atividades com tais equipamentos. Veja que a frase da norma anterior não limitava o uso destes equipamentos aprovados e calibrados conforme as IEC 60651 e IEC 60804 para Tipo ‘0’ ou Tipo ‘1’, caso eles fossem fabricados após a publicação da IEC 61672 (todas as partes), de forma que dava margem à utilização de equipamentos novos fabricados segundo às normas IEC antigas, o que era uma inconsistência da norma.
Leia-se na errata: “Para aplicação desta Norma, o sonômetro (medidor integrador de nível sonoro ou sistema de medição de nível de pressão sonora) deve atender aos critérios da IEC 61672 (todas as partes) para a classe 1 ou classe 2. Pode ser utilizado sonômetro integrador fabricado antes da publicação da IEC 61672 (todas as partes), desde que aprovado e calibrado conforme as IEC 60651 e IEC 60804 para Tipo 0 ou Tipo 1.”.
Quanto ao uso do protetor de vento, a norma ficou mais flexível quanto à correção no espectro de frequência, sendo apenas recomendada conforme a instrução do fabricante. Tudo bem que essas correções são relativamente pequenas, mas acredito que seja um retrocesso e quem sabe uma tentativa de não tornar os critérios tão rígidos, pois poucos fornecedores enviam as informações sobre tal correção.
Leia-se a errata: “Quando utilizado o protetor de vento no microfone do sonômetro, recomenda-se executar a correção da influência dos efeitos do protetor de vento na resposta em frequência do microfone, conforme instrução do fabricante para o modelo do protetor de vento utilizado.”.
Uma inclusão importante envolve a faixa de medição e ruído autogerado, de forma que o certificado de calibração e o manual dos equipamentos deve conter tais informações, as quais devem ser respeitadas. Por exemplo, não podemos medir um ruído de 130 dB se o equipamento só consegue medir com linearidade um som até 120 dB. Além disso outras notas foram inseridas, mas se referem às versões das normas IEC, sendo de maior interesse dos fabricantes e laboratórios.
Leia tais inclusões: “Especificações do sonômetro apresentadas no manual do fabricante e resultados de calibração do instrumento de medição devem ser utilizados para determinação dos níveis mínimo e máximo que podem ser medidos. O ruído autogerado, a linearidade de nível e o nível de sobrecarga devem ser particularmente verificados
no manual e no certificado de calibração para determinação da faixa dinâmica útil do sonômetro. NOTA 1 A IEC 61672-1 denomina o instrumento como Sound Level Meter, na língua inglesa e sonomètre, na língua francesa. A NP ISO (todas as partes) utiliza a denominação Sonómetro (ver, Bibliografia [11] e [12]). NOTA 2 Na publicação desta Norma, a edição vigente da IEC 61672 é dividida três partes (IEC 61672-1:2013, IEC 61672-2:2013 e IEC 61672-3:2013). As IEC 60651 e IEC 60804 são partes únicas. NOTA 3 Na publicação desta Norma, a edição vigente da IEC 61260 é dividida três partes (IEC 61260-1:2014, IEC 61260-2:2016 e IEC 61260-3:2016). A edição anterior desta Norma é IEC 61260:1995.”.
Quanto ao “calibrador de nível sonoro”, essa é a nomenclatura oficial que está sendo usada, e não mais “calibrador sonoro”. Todavia, continua a necessidade de uso de um calibrador de nível sonoro tipo 1, caso seja usado em conjunto com um MNPS tipo 1; assim como a necessidade de usar um calibrador de nível sonoro tipo 2 em conjunto com um MNPS tipo 2. Há de se dizer também que não há no Brasil acreditação para calibração de distorção harmônica de calibradores de nível de pressão sonora e tal informação pode vir em separado. Tive um caso de um equipamento calibrado recentemente que justamente veio com o certificador de distorção harmônica do calibrador de nível sonoro em separado.
Leia-se: “NOTA – Na data da publicação desta Norma, não há acreditação de calibração da medida da distorção, porém convém que seja incluída esta informação, em documento à parte do certificado, para a avaliação da qualidade do sinal acústico fornecido pelo calibrador de nível sonoro.”
Calibração e Acreditação
Sobre essa questão foram substituidas as palavras “rede reconhecida por acordo oficial brasileiro de reconhecimento mutuo” pelas palavras “organismos signatários de acordos oficiais de reconhecimento mútuo” quando se trata de equipamentos calibrados por laboratórios internacionais. Para você saber mais sobre o que são organismos signatários, recomendo visitar essa página do Inmetro com mais informações.
Foi incluída uma frase dizendo que: “A calibração deve ser realizada de acordo com a edição da IEC declarada pelo fabricante.”.
Som tonal
Assim como na NBR 10.151, o método de identificação do som tonal tem limitações, principalmente se o som tonal está entre bandas de frequência padronizadas, de forma que é difícil detectar o mesmo. Por esse motivo se incluiu uma nota no Anexo A.
Leia-se: “NOTA – Em alguns casos, este método pode não ser suficiente para identificar o som tonal quando este situar-se entre duas bandas adjacentes ou quando houver som tonal em mais de uma banda adjacente. Até que sejam publicadas Normas específicas, recomenda-se análise po r transformada rápida de Fourier FFT.”
Microfone
Quanto ao microfone, deve-se observar agora às normas IEC 61094-5, IEC 61094-6 e IEC 61094-8 para que conste no certificado de calibração, de forma que só se consegue aferir sua resposta em frequência se acoplado a um sistema de medição. Consequentemente, se limita o uso do microfone com o sonômetro para o qual foi realizado o ensaios que ofereceu o certificado de calibração segundo a IEC 61672-3, de forma que o sistema calibrado não permite intercambiamento de microfones.
Leia-se “NOTA – Pela IEC 61672-3, a calibração do microfone fica implícita no teste acústico e os dados constam no próprio certificado do sonômetro. Nestes casos, a calibração do microfone pode ser considerada válida apenas para o seu uso com o sonômetro para o qual foi calibrado.”
Errata da NBR 10151:2019
A primeira questão que surge na errata é que agora há margem para negociação para o não atendimento à norma na ocorrência de eventos religiosos, culturais, desportivos, disparo de fogos de artifício emissores de ruídos, shows com torres de alto-falantes, trios elétricos, desfiles e ensaios carnavalescos em praças e vias públicas. Por um lado isso é interessante, porque permite que tais eventos ocorram com consentimento do poder público. No entanto, isso pode ferir a individualidade de comunidades próximas a tais eventos já que essas “negociações” podem simplesmente passar por cima das normas técnicas e flexibilizar a legislação. A consequência de negociações corruptas pode permitir uma poluição sonora indiscriminada, simplesmente de acordo com a vontade dos organizadores do evento, dos políticos e/ou servidores públicos envolvidos, o que na nossa visão é temerário!
Temos que ter confiança em nossos mecanismos públicos de controle da poluição sonora, e exigir deles mais instrumentos, capacitação e mais critério para permitir que tais eventos ocorram. O fator econômico e cultural é importante em diversos desses eventos, entretanto, temos que ter ciência que o correto é haver espaços próprios para esses fins, como passarelas do samba, galpões, casas noturnas, templos religiosos e outros com isolamento acústico.
Leia o que diz a errata: “Espera-se que o poder público considere os requisitos e recomendações desta Norma para
harmonização dos regulamentos de medição e avaliação sonora. Emissões sonoras ao ar livre, de interesse social, comuns em eventos religiosos, culturais e desportivos, entre outros, como por exemplo o disparo de fogos de artifício emissores de ruídos, shows com torres de alto-falantes, trios elétricos, desfiles e ensaios carnavalescos em praças e vias públicas, podem não atender aos limites de níveis de pressão sonora recomendados nesta Norma. Nestes casos, recomenda-se que acordos devam ser alcançados junto ao poder concedente.”Abaixo da tabela 3 também é incluída a nota: “NOTA 2 – Na introdução desta Norma constam consideração de emissões sonoras de interesse social que podem não atender aos requisitos da Tabela 3, bem como recomendação para esta situação.”
Quanto ao MNPS, microfone, calibrador de nível de pressão sonora, acreditação e calibração, as mesmas alterações aplicadas à NBR 10152 comentadas mais acima foram também atualizadas na NBR 10151.
Em relação ao tempo de integração, vou puxar a definição de acordo com a NBR 16313 que diz que o tempo de integração é o tempo, T, durante o qual é efetuada a integração do nível sonoro. Desta forma, se você pausar o seu equipamento e depois voltar a medir, o tempo de integração será diferente do tempo de medição, haja visto que por certo período de tempo os níveis de pressão sonora não foram contabilizados e por tal motivo o tempo de medição é maior que o tempo de integração. Isso ficou mais claro na nota inserida.
Uma nota que explicava sobre a presença de uma superfície refletora, a qual poderia aumentar o nível de pressão sonora, foi retirada da norma porque era mais um exemplo e não contribuia muito para com o procedimento.
Bom espero que essas explicações e opiniões tenham te auxiliado no entendimento das normas técnicas. Caso você ainda tenha dúvidas quanto aos conceitos abordados, nomenclaturas, normas e aplicação de tais normas, recomendo que você procure capacitação específica com empresas que tenham conhecimento no tema e experiência. Ficamos ao dispor para responder dúvidas e contamos com seus comentários.
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Nos vemos do outro lado do Portal!
PS: Agradecimento à Mariluza da Technica Assessoria – Acústica Profissional pela revisão do artigo.
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