Lã de rocha, lã de vidro e lã de PET – Como as lãs minerais podem auxiliar em certificações ambientais de edificações

Projetar ambientes com qualidade acústica com certeza não é uma tarefa fácil! Conhecer os métodos construtivos, tecnologias e materiais disponíveis é um diferencial para o profissional da área da construção civil e arquitetura, sendo que um bom tratamento acústico engloba o isolamento e o condicionamento acústico do ambiente. 

Por condicionamento entendemos as características de conforto sonoro interno, ou seja, se os níveis de ruído estão adequados ao uso do espaço. Já por isolamento acústico, entendemos como as técnicas construtivas que permitem separar bem o ruído entre ambientes distintos. A escolha dos materiais faz toda a diferença na hora de pensar no conforto acústico que a edificação vai ter. Neste conceito, vamos apresentar e discutir alguns materiais comumente empregados no projeto acústico, e quebrar alguns mitos em relação a eles.

A lã mineral é um material que merece destaque, além de suas propriedades acústicas excelentes, apresenta também boas propriedades térmicas a fim de trazer um conforto duplo para o espaço selecionado. A característica fibrosa deste tipo de material confere a ele uma ótima propriedade de dissipação da energia acústica por meio da vibração das fibras, e com isso transformação do som em calor. No mercado há alguns materiais classificados desta forma, confira no artigo.

Lã de Rocha

As lãs de rocha são formadas por fibras minerais de rochas vulcânicas e são comuns no mercado, possuindo diversas empresas e indústrias que trabalham com esse produto de diferentes formas: podendo ser em mantas, rolos, placas ou até em formatos especiais sob demanda. 

Em geral as indústrias exigem um faturamento mínimo para especificações pouco convencionais, como altas densidades de por exemplo 96 kg/m³. Mas a mais comum encontrada em lojas de material de construção está apresentada na densidade de 32 kg/m³. A lã de rocha por mais densa que seja, ainda assim não é mais pesada do que um bloco de concreto, ou um tijolo. Desta forma, ela por si só não será mais eficiente do que estes elementos duros e pesados no que tange o isolamento acústico. 

Um bom isolamento acústico é otimizado com o uso da lã de rocha, principalmente para reduzir os efeitos de ressonância em cavidades de paredes duplas, por exemplo, mas a manta de lã de rocha por si só não tem a característica de bloqueio sonoro. Exemplos de sistemas massa-mola-massa que aplicam uma parede dura, uma manta de lã mineral e outra parede dura, são as paredes de drywall – ou também chamadas de gesso acartonado. 

Lã de Rocha (Imagem: Nagy-Bagoly Arpad/shutterstock.com)

As lãs são bons absorventes acústicos com a capacidade de absorver os ruídos em áreas internas se o som que está no ambiente interno está em contato direto com a lã. Seja então essa lã revestida com um tecido, ou ainda dentro de um ressonador, algumas soluções incluem forros de gesso perfurado com lã ao fundo, protegidas por um véu preto de TNT ou ainda véu de vidro. Além de tudo, justamente por ser uma lã com uma densidade considerável, tem função de isolamento térmico, deixando o ambiente mais próximo da temperatura ideal, sem grandes oscilações, combatendo climas muito quentes ou muito frios. 

Uma das vantagens da lã de rocha é que ela não é inflamável e não propaga chamas trabalhando dentro dos níveis de segurança especificados pelo corpo de bombeiros para uma edificação. A temperatura máxima suportada vai determinar a espessura da lã de rocha, mas nos casos de acústica, a espessura irá determinar o grau de isolamento acústico, visto que com a cavidade que a lã está, se pode simular o grau de isolamento sonoro pretendido. 

Por outro lado, o tempo necessário para que um sistema resista ao fogo vai depender do tamanho da edificação e também do volume dos ambientes e sua ocupação. Além de ser resistente à água e também quimicamente neutro, sem produtos processados nocivos para a saúde, a lã de rocha exige cuidados de manuseio, visto que as fibras são muito pequenas e podem penetrar na pele, causando irritação. Por tal motivo, há outros tipos de lãs que também podem ser utilizados para esse fim, como a lã de vidro e a lã de poliéster, ou popularmente chamada de lã de PET.

• Confira um artigo sobre “Mitos e verdades sobre isolamento acústico” aqui!

Benefícios do uso de Lã Acústica no projeto

O que eu ganho utilizando a lã acústica em meus projetos? Além de proporcionar boas experiências de convívio entre as pessoas ao promover qualidade de comunicação verbal, e conforto térmico, existe uma certificação de nível internacional chamada Fitwel, assim como diversas outras, que pode ser almejada em uma edificação. Ela foi desenvolvida pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC) e pelo General Services Administration (GSA), a fim de tornar os ambientes de convívio/trabalho com cada vez menor agravamento de doenças crônicas. Veja que interessante essa certificação para empreendimentos senior friendly.

A certificação Fitwel apresenta de 1 a 3 estrelas no ranking, sendo um total de 144 pontos e um mínimo de 90 pontos a se alcançar no empreendimento. Para pontuar bem na certificação, a acústica aparece como um diferencial de projeto, pontuando 2,67 no conforto acústico exterior e 1,44 no conforto acústico interior para edifícios de usos familiares, o que corresponde a 1,5% do empreendimento. 

Esse tratamento acústico vem com o objetivo de reduzir os ruídos causadores de estresse nos moradores e melhorar a qualidade de sono dos mesmos. Além da pontuação em acústica, o controle térmico pontua também 0,41 pontos, o que torna as lãs minerais uma solução com um bom custo benefício para esses empreendimentos. Tratando da acústica com a aplicação de lãs minerais pode permitir a aquisição de um selo de certificação da edificação, impulsionando ainda mais a venda do edifício e o reconhecimento dos projetistas e construtoras. 

A avaliação para receber o certificado é feita em etapas, onde o projetista coloca no próprio site Fitwel e vai recebendo os feedbacks de como estão as pontuações de acordo com os avaliadores das entidades responsáveis, criando um portfólio de projeto e mudanças na própria plataforma. Além da certificação de projeto, existe a certificação de operação dos edifícios (já projetados e construídos), sendo que ambas as certificações têm validade de 3 anos e podem ser renovadas com mais procedimentos de auditoria. Neste processo o empreendimento é inteiramente auditado por fotos do local em operação, blueprints dos projetos e soluções inovadoras dadas pelos projetistas em situações peculiares.

Lã de vidro e Lã de PET

Outras lãs também citadas e fortes no mercado são as lãs de vidro e lãs de PET. Elas merecem a atenção justamente por serem menos densas que a lã de rocha, de mais fácil manuseio para cortes e instalações, e por serem menos nocivas aos instaladores. Porém, pelo mesmo motivo acabam sendo menos eficazes em termos de isolamento acústico em sistemas massa-mola-massa.

Lã de Pet (Imagem: hemeisolantes)

Lã de Vidro

Desta forma, cada empreendimento necessita de um projeto acústico, onde os cálculos de isolamento acústico são realizados através da EN 12354 por profissionais especializados. Assim, para uma especificação que otimize o custo para a construtora e também garanta o desempenho ao cliente final, é mais que necessário saber o que se está fazendo. 

Para tratar melhor do assunto, o especialista Pablo Serrano, engenheiro mecânico e mestre em acústica pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutor em engenharia e meio ambiente pela University of Southampton comenta que: “Nos projetos acústicos para empreendimentos certificáveis, precisamos analisar a procedência e características de sustentabilidade, além dos requisitos técnicos. As famosas lãs de poliéster, ou PET, apresentam-se como alternativas interessantes por serem recicladas e também recicláveis. As temperaturas nas quais as lãs estão sujeitas são recorrentemente menores que a temperatura de fusão do material, sendo que em termos de flamabilidade, em geral o material da camada mais externa é que irá determinar o Tempo Requerido de Resistência ao Fogo – TRRF. Entretanto, observamos a dificuldade de encontrar sistemas construtivos compostos, como por exemplo fechamentos verticais de fachadas, que tenham esse parâmetro de TRRF ensaiado e laudado em campo. Entretanto, as lãs de vidro e de rocha estão sofrendo uma forte concorrência com a lã de PET no mercado, pois apesar de apresentarem altas densidades, a altas capacidades de isolamento termoacústico, elas perdem em alguns quesitos de sustentabilidade para a lã de PET. Sendo assim, independente do material da manta acústica utilizada no empreendimento, todas contribuem para uma alta pontuação nos processos de certificação do empreendimento.”

O projeto final é uma soma de todos os conhecimentos do projetista e de sua carga cultural e intelectual. Conhecer bem o mercado de materiais, adotar soluções criativas e impulsionar boas experiências de vida para aqueles que vão frequentar o espaço construído é o que devemos esperar das nossas construtoras e profissionais terceirizados.

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