Piscinas em coberturas, um problema de ruído e vibração
Prática atual bastante comum em projetos de edificações habitacionais e hotéis, a previsão de áreas de lazer de uso coletivo nas coberturas de edificações inclui, geralmente, ambientes como salões de festas, piscinas e academias de ginástica. No caso da instalação de piscinas em coberturas, o projeto demanda cálculos adequados, para determinar a necessidade de eventuais reforços de vigas, pilares e fundações. Além disso, a execução da piscina deve ser planejada de forma a impedir eventuais vazamentos e infiltrações, a partir de soluções de impermeabilização. Mas as cautelas não param por aí: é necessário o controle dos ruídos e vibrações associados ao uso da piscina para impedir a transmissão aos ambientes adjacentes. A depender do projeto arquitetônico, pode ocorrer da piscina estar localizada acima de áreas sensíveis ao ruído, como os dormitórios de unidades habitacionais e hotéis.
Uma questão bastante delicada associada à instalação de piscinas na cobertura é a transmissão do ruído e vibração, também chamado de ruído de impacto nas estruturas da edificação. Isso demanda cuidados especiais de isolamento acústico, exigindo uma análise altamente técnica e específica para cada projeto.
Fonte: https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjf4eaj8b7fAhXIQZAKHbGQAmIQjxx6BAgBEAI&url=https%3A%2F%2Fwww.mapadaobra.com.br%2Finovacao%2Fpiscina-de-predio%2F&psig=AOvVaw3m0we04L34nKMz1tyaWs5-&ust=1545961436776099
Os objetivos acústicos determinados pela norma de desempenho NBR 15575, em se tratando do ruído de impacto para o caso de sistemas de piso de áreas de uso coletivo sobre unidades habitacionais autônomas, são os seguintes:
Critério e nível de pressão sonora de impacto padrão ponderado, L’nT,w (a correta grafia com os subscritos não é possível no editor do blog, sorry :p )
Fonte: ABNT NBR 15.575-3: 2013; página 40
Ou seja, qualquer sistema de piso separando áreas comuns de unidades habitacionais, incluindo as piscinas – que se enquadram em “atividades de lazer e esportivas” -, deve ser planejado de forma a atender o valor mínimo (M) obrigatório do nível de pressão sonora de impacto padronizado ponderado, L’nT,w ≤ 55dB. Caso o construtor deseje um desempenho melhor, além do obrigatório, a norma também indica parâmetros de desempenho intermediário (I) e superior (S), visto que tais valores já são utilizados em países desenvolvidos e são uma tendência assim que todos os fornecedores se adequarem ao desempenho mínimo.
Sistemas de desconexão: a solução para o ruído e vibração
O isolamento acústico de piscinas em coberturas tem por objetivo impedir a transmissão da energia sonora por via estrutural, de modo a resguardar os ambientes sensíveis e atender aos valores obrigatórios determinados pela norma de desempenho. Para isso, é indicado que as piscinas sejam desconectadas da estrutura do edifício, a partir da instalação de camadas de sistema isolante entre a superfície da piscina, a laje e as paredes. Este sistema deve ser dimensionado conforme a definição das cargas que serão aplicadas na piscina. Pretende-se, desta forma que a piscina “flutue”, a partir de um sistema de desconexão, não havendo contato rígido com a edificação que resulte na transmissão de vibrações. O sistema de desconexão deve oferecer uma superfície de contato mínima, sendo aplicável tanto para as laterais da piscina como para o fundo.
Fonte: http://engineering-dynamics.com.au/vibration-isolation/
As soluções para isolamento da piscina variam de acordo com as demandas do projeto, podendo ser indicadas lajes duplas, calços de borracha ou PADs isoladores com alta durabilidade, aplicação de contrapisos flutuantes, mantas acústicas e isoladores tipo molas com alta deflexão. Estas soluções, muitas vezes, podem ser acompanhadas de medidas mitigatórias do ruído instaladas nos ambientes receptores, como a instalação de forros rebaixados com amortecedores especiais. Com relação aos isoladores, estes possuem uma série de parâmetros, como uma gama de cargas nominais e propriedades de deflexão estática (deflexão sob a carga máxima). Estas e outras propriedades devem ser solicitadas pelo projetista ao fabricante e consideradas em projeto.
Geralmente, recorre-se à utilização de isoladores tipo PADs quando necessários menores níveis de isolamento, no caso de a piscina estar afastada de locais habitados, por exemplo. Para piscinas localizadas próximas a áreas habitadas, níveis de isolamento maiores são necessários, podendo ser atingidos por molas com alta deflexão que permitem deslocamentos da estrutura e o uso de um sistema sub-amortecido. A utilização destes suportes resulta em uma menor frequência natural do sistema e, portanto, maior eficiência no isolamento aos impactos que abrangem uma ampla faixa de frequências de excitação [1].
Isoladores de vibração tipo PADs de borracha
Isoladores de vibração tipo mola
Fonte: http://www.kenjordanswimmingpools.com/index.php/acoustics
As figuras a seguir apresentam exemplos de desconexão estrutural utilizando PADs de borracha e molas entre a estrutura da piscina e a estrutura da edificação, respectivamente.
Fonte: https://www.masonmercer.com.au/eafm-series-swimming-pool-isolators/ (adaptado pela autora)
Fonte: https://www.masonmercer.com.au/pcslf-series-swimming-pool-isolators/ (adaptado pela autora)
Isolamento acústico de ruído e vibração em casas de máquinas de piscinas
Para motobombas de pressurização d’água e bombas de piscina, recomenda-se o tratamento acústico antivibratório em bases individualizadas para os equipamentos. Estes sistemas, geralmente bases inertes de concreto depositadas sobre amortecedores antivibratórios, quando adequadamente dimensionados, impedem a transmissão do ruído e vibração para a estrutura da edificação.
Recomenda-se, igualmente, o tratamento da reverberação em áreas técnicas, como casas de bombas e casas de máquinas, a partir do revestimento das superfícies de parede e teto com materiais com maior capacidade de absorção. O tratamento da acústica interna destes ambientes contribui para uma menor pressão sonora a ser transmitida para os ambientes adjacentes.
Paralelamente, recomenda-se o isolamento acústico destes ambientes a partir da indicação de sistemas de fechamento com adequados índices de atenuação acústica (Rw). Quando necessário manter a ventilação das áreas técnicas abrigando bombas e equipamentos, recomenda-se o tratamento do insuflamento, e retorno de ar a partir da instalação de atenuadores sonoros, que devem ser dimensionados pelo projetista conforme cada caso.
Atenuador sonoro
Fonte: https://www.indiamart.com/proddetail/hvac-sound-attenuators-4585603988.html
Os atenuadores são equipamentos com elevada resistência mecânica, em geral construídos em chapa de aço galvanizada, sendo os septos acústicos constituídos por núcleo em lã mineral de média ou elevada densidade. O dimensionamento de atenuadores varia em função de diversos requisitos, em função dos objetivos acústicos indicados em projeto, a frequência alvo em estudo, e o espaço disponível para colocação do atenuador no ambiente. Além da definição da largura e comprimento total dos atenuadores, devem ser dimensionados elementos como as paletas, bem como o espaçamento entre elas.
Tratamento da acústica interna de piscinas cobertas
Fonte: https://www.nautilus.ind.br/blog/inspire-se-galerias/piscinas-cobertas-2/piscina-coberta-em-apartamento-blanc-campo-belo-em-sao-paulo-reproducao/
No caso de piscinas cobertas, além do ruído de impacto, deve-se tratar a acústica interna para controle da reverberação excessiva, o que mantém os níveis de ruído altos no ambiente. No geral, ginásios esportivos e piscinas cobertas são espaços intensamente reverberantes, devido à predominância das superfícies rígidas de paredes e teto, além da frequente utilização de superfícies de vidro para passagem de iluminação natural. Por tal motivo, tornam-se espaços ruidosos e com pouco conforto.
Para controle da reverberação excessiva em piscinas cobertas, é recomendada a utilização de materiais com alta absorção acústica, como baffles de teto, forros minerais com tratamentos anti-fungos. Painéis de parede que também evitem a condensação e retenção de umidade são recomendados. Para piscinas cobertas com aulas de ginástica e comunicação via sistemas de som é recomendável um tempo de reverberação ideal entre 1 a 1.5 segundos para garantir que se entenda o que o instrutor fala [2]. Por serem ambientes sujeitos a condições extremas de umidade e flutuações de temperatura, recomenda-se a utilização de materiais acústicos com alta durabilidade, facilidade de limpeza, resistência à água e ao impacto, devendo-se evitar materiais com alta capacidade de deformação, que contraiam ou expandam devido a alterações de umidade ou temperatura.
Tem dúvidas sobre o projeto de isolamento acústico de piscinas? Deixe seu comentário!
[1] https://www.acoustics.asn.au/conference_proceedings/AAS2017/papers/p39.pdf
[2] https://www.europeanacustica.com/aislamiento-acustico/insonorizacion-de-piscinas-cubiertas
Parabéns pelo artigo! Tenho acompanhado os artigos da autora no Portal e são de uma linguagem fácil para assuntos complexos e de grande importância.
Caro Alexandre, obrigado pelo comentário. Estamos felizes em poder auxiliar no seu desenvolvimento. Felizmente temos comentários positivos em relação aos artigos, mas precisamos de mais colaboração. Nos diga quais são os seus desafios no momento, para direcionarmos os tópicos e quem sabe atender alguma demanda sua…
Caros Senhores,
Estamos no nosso Condomínio com um problema de ruído sendo gerado por uma Bomba de calor usada para aquecimento de Piscina. A bomba instalada num fosso ao lado de nosso edifício emite um ruído “constante” super elevado (75-80 dBA), funcionando dia e noite e que nos está nos causando um enorme problema de concentração no trabalho em casa(Home Office) bem como no nosso descanso noturno.Como a Síndica está irredutível em discutir esse assunto, eu como engenheiro mecânico, decidi estudar a situação para ver que alternativas possam existir, de modo atenuar esse ruído e que que custo aproximado seriam.
Para tanto, elaborei um estudo preliminar colocando uma ideia inicial, mas que não sei se acústicamente é viável na redução do ruído. Assim sendo, gostaria de saber se poderia contar com a ajuda deste portal para análise da minha sugestão? Se for possível, como posso encaminhar o estudo ao Portal?
Washington, sugiro contratares um especialista para avaliar a situação.
Abraços,
Pablo Serrano
Bom dia
Resido em São Paulo, capital e possuo uma piscina na minha cobertura.
Gostaria de saber se alguém possui indicação de tecnico especialista para realizar um diagnóstico para minimizar o problema de ruidos no andar de baixo quando a bomba do trocador de calor está ligada.
Obrigado.