Home office vai impactar no desenho dos imóveis e em projetos acústicos de residências

Com mais pessoas trabalhando em casa, arquitetos terão que adaptar seus projetos – inclusive a parte acústica – para atender novas demandas dos clientes 

Transformar espaços da casa ou apartamento em escritório tem sido um desafio para os 8,9 milhões de brasileiros que estão trabalhando em casa durante a pandemia da Covid-19. Mas se hoje o home office é uma necessidade frente a uma crise de saúde, a tendência é de que ele seja adotado por muitas empresas como um novo modelo de trabalho.

Um estudo da Cushman&Wakefield com organizações de São Paulo e do Rio de Janeiro mostrou que 40,2% das empresas não trabalhavam com a modalidade de home office antes da crise e pretendem adotá-la de forma definitiva quando esse período passar.

Esse movimento já começa a se refletir no mercado imobiliário. O espaço passou a valer mais que a localização, impulsionando a busca por casas em vez de apartamentos e a preferência por bairros mais afastados.  Só para se ter uma ideia, a venda de casas em condomínios quadruplicou em alguns empreendimentos, e os preços desse tipo de imóvel subiram 20% desde o início da Covid-19 no Brasil.

Além disso, como estamos passando muito mais tempo em casa, a tendência é de que o desenho dos imóveis pós-pandemia mude. E isso vale tanto para casas, quanto para apartamentos.

Entre as demandas que os arquitetos devem atender ao projetar espaços residenciais estão:

• valorização ainda maior da iluminação natural e de espaços com varanda;
• uso de materiais que facilitem a higienização e a limpeza dos ambientes;
• soluções para entregas externas;
• necessidade de criação de ambientes de escritório.

No caso específico do escritório em casa, as adaptações que os arquitetos e designers de interiores terão que fazer para atender às necessidades de clientes em home office incluem  a iluminação adequada, móveis ergonômicos e, claro, o conforto acústico.

Projeto de acústica para home office

Conforto acústico é um dos requisitos básicos de qualquer ambiente de trabalho, seja em um escritório ou em casa. Evitar o excesso de ruídos é crucial para garantir a saúde e bem-estar do trabalhador, aumentando a capacidade de concentração e produtividade.

Com o crescimento do home office, esses requisitos acústicos precisam ser adaptados para um ambiente que não foi originalmente projetado para atividades profissionais, mas sim para moradia.

Seja no caso de uma reforma ou no projeto de uma nova edificação, arquitetos e construtores precisam se atentar para aspectos importantes do projeto acústico. Fatores necessários para o conforto acústico de quem trabalha e mora na mesma unidade habitacional.

Veja a seguir algumas das necessidades de um projeto de acústica para home office:

Redução do ruído de impacto

Um dos principais desafios de um projeto acústico focado em home office é a redução do ruído de impacto, geralmente produzido por vibrações nos elementos da edificação, como pisos, paredes, coberturas, etc.

O ruído de impacto pode ser produzido por um simples caminhar de uma pessoa sobre o piso ou um prego sendo afixado na parede. São situações bastante comuns em construções verticais e que causam ainda mais desconforto quando se precisa de concentração e silêncio para trabalhar.

As medições de ruído de impacto e aéreo são feitas de acordo com a NBR 15.575, que analisa o desempenho dos sistemas construtivos conforme os requisitos para sistema de pisos, sistema de vedações verticais internos e externos, sistema de cobertura e sistemas de hidrossanitários.

A partir das avaliações do desempenho acústico, o consultor de acústica pode indicar soluções construtivas como aumento da espessura da partição principal, instalação de mantas acústicas ou pisos flutuantes.

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Uso de janelas acústicas

Outra solução que pode ser incorporada no projeto são as janelas acústicas ou antirruído. Estruturas geralmente compostas por vidros duplos separados por uma câmara de ar ou uma camada de película de polivinil butiral, o PVB. Quanto mais densa a esquadria da janela (alumínio, ferro), mais ela irá isolar o som, visto que pelo vidro é sempre mais previsível em termos do isolamento sonoro. O segredo, principalmente em altas frequências, é a vedação; seguido pela geometria e a densidade da esquadria.

A escolha do tipo de janela acústica (o tipo de vidro, o tipo de esquadria, a forma de instalar) varia de acordo com o ambiente e o projeto. Por isso, é importante avaliar qual a opção mais adequada para cada ambiente. No caso de reformas de espaços – em que tudo já está construído -, soluções de sobreposição são uma ótima alternativa que evita obras e é muito rápido de instalar.

Conhecimento em acústica é uma necessidade para arquitetos

Em uma matéria recente da Casa Vogue sobre o que deve mudar na casa após a pandemia, o arquiteto e designer Guto Requena destaca a necessidade de reinvenção dos profissionais:

“Já venho defendendo a ideia de que não devemos desenhar cômodos da casa, como quartos, sala ou cozinha. Acredito que faz mais sentido desenhar as atividades da casa, como trabalhar, comer, dormir, se divertir… Pensar a casa a partir das atividades, mais do que nunca, será revisto pelos arquitetos. Por exemplo, trabalhar pode ser feito em diferentes ambientes, como varanda ou quarto. Então, teremos mais flexibilidade, como painéis que deslizam, móveis com rodízio, iluminação flexível.” 

Ou seja, a perspectiva é de que os clientes busquem soluções mais personalizadas, sendo  crucial que o profissional saiba como atendê-las de modo completo.

Além disso, dentro de um cenário em que moradia e trabalho ocupam o mesmo espaço, a importância do projeto acústico compatibilizado ao projeto arquitetônico nas edificações residenciais é ainda maior.

Por isso, ter conhecimentos de acústica – como normas, medições e cálculos – não é somente um diferencial competitivo, mas uma necessidade para o arquiteto que deseja manter-se atualizado em um mundo pós-Covid.

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