Ruído de impacto: um comparativo de sistemas construtivos
Com o advento da norma NBR 15575, que versa sobre desempenho de edificações, a questão do desempenho acústico é de cada vez mais importância no contexto de mercado brasileiro. O ruído de impacto acontece pela excitação mecânica de superfícies rígidas, isto é, nos sistemas estruturais. No caso de edificações, o ruído de impacto pode acontecer pela queda ou arrastar de algum objeto, além do caminhar de pessoas [1]. Neste artigo pretendemos apresentar alguns dados comparativos entre sistemas construtivos de forma que você poderá avaliar a estimativa do desempenho acústico de um sistema construtivo antes do empreendimento sair do papel. Isso é particularmente interessante agora porque diversas construtoras estão entregando obras com projetos aprovados antes de 2013 e estão com olhos para o futuro.
Elementos construtivos
Dentre os elementos estruturais encontrados nas habitações, têm-se: vigas, fundações, colunas e lajes. Lajes são estruturas em formato de placa, cujas dimensões de comprimento e largura são maiores que a altura, e que fazem a interface entre pavimentos de uma construção. As lajes são apoiadas em vigas, dando suporte a contrapisos, os quais são uma regularização do piso para aplicação de um acabamento. As lajes também podem funcionar como teto se não forem aplicados forros abaixo da mesma [2].
Fonte: https://bit.ly/2YZLefn
De acordo com diversos estudos realizados no âmbito acadêmico, sabe-se que as diferentes configurações de materiais e de montagem das lajes repercutem diretamente na transmissão sonora e no desempenho das edificações. A seguir, serão apresentados diferentes resultados de configurações de lajes com seus respectivos desempenhos acústicos.
Ensaios acústicos de lajes distintas
No trabalho de Nunes, Zini e Pagnussat [3], foram realizadas análises para sete sistemas de lajes. Houve basicamente o estudo de laje de concreto maciço – com espessura de 10 e 12 cm -, laje treliçada com EPS e laje nervurada. Além disso, foram estudados diferentes revestimentos, isto é, o piso acabado com revestimento laminado de madeira ou de cerâmica. Foram realizados ensaios de campo, seguindo as normas ISO 140-4, 140-7 e 140-14, classificando o desempenho de acordo com a NBR 15575/2013. A tabela abaixo exemplifica o que foi encontrado pelos autores ao se utilizar o descritor acústico correto, o qual avalia o nível de pressão sonora medido em um ambiente imediatamente abaixo do qual está sendo feita a percussão do piso através de uma máquina padronizada de ensaios.
Tipo de laje | Revestimento | L’nTw (dB) | Desempenho para ruído de impacto |
Concreto maciço 10 cm | Contrapiso de argamassa comum 5 cm + laminado de madeira 7 mm, com manta de fibras de polipropileno 5 mm | 54 | Superior |
Concreto maciço 10 cm | Contrapiso de argamassa comum 5 cm + laminado de madeira 7 mm, com manta de polietileno expandido 2 mm | 56 | Intermediário |
Concreto maciço 12 cm | Contrapiso de argamassa com brita leve 4 cm (1:2:3) + laminado de madeira 7 mm, com manta de polietileno expandido 2 mm | 60 | Intermediário |
Concreto maciço 12 cm | Contrapiso de argamassa com brita leve 4 cm (1:2:3) + porcelanato | 78 | Mínimo |
Treliçada com enchimento de EPS 5 cm e capa de concreto armado 4 cm | Contrapiso de concreto 4 cm + laminado de madeira 7 mm | 63 | Intermediário |
Treliçada com enchimento de EPS 5 cm e capa de concreto armado 4 cm | Contrapiso de concreto 4 cm + cerâmica esmaltada | 85 | Não atende |
Laje nervurada com cubetas de EPS | Contrapiso de argamassa com brita leve 5 cm (1:1:4) e argamassa comum 2 cm + laminado de madeira 7 mm | 50 | Superior |
Fonte: Nunes, M.F.O.; Zini, A.; Pagnussat, D.T. [3]
No trabalho de Klippel, Labres et all [4], houve o estudo do comportamento de quatro diferentes configurações de sistemas de pisos flutuantes. A fim de reduzir a irradiação das vibrações, buscou-se seguir o princípio do amortecimento do impacto mecânico. Os sistemas de pisos foram montados sob contrapisos convencionais de argamassa e contrapisos com adição de agregados leves. A tabela abaixo apresenta os resultados obtidos pelos autores.
Descrição | L’nTw (dB) |
Manta em EVA de 7 mm sob contrapiso argamassado com adição de EVA, de duas granulometrias, fina e média, em 50 mm e material absorvente no negativo do sistema de forro | 57 |
Manta em EVA de 7 mm sob contrapiso argamassado com adição EVA, de granulometria fina, em 50 mm e material absorvente no negativo do sistema de forro | 56 |
Manta em lã de PET de 10 mm sob contrapiso argamassado convencional de 40 mm e material absorvente no negativo do sistema de forro | 46 |
Manta em lã de PET de 10 mm sob contrapiso convencional de 60 mm e material absorvente no negativo do sistema de forro | 45 |
Fonte: Klippel, Labres et all [4].
Assim, pode-se perceber através dos estudos acima citados como o desempenho de lajes pode ser modificado ao se utilizar diferentes configurações de pisos. Por exemplo, o uso de mantas acústicas ou a alteração da espessura do contrapiso já dá resultados significativos. Por meio desse conhecimento, é possível criar as melhores soluções acústicas, que atendam às normas, entreguem aos clientes o desempenho amejado e não aumentem significativamente o custo. Essas atitudes podem garantir a diferenciação no mercado, haja visto que em geral as reclamações dos clientes de empreendimentos residenciais verticalizados são quase que em grande maioria ligadas ao ruído.
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REFERÊNCIAS:
[1]https://portalacustica.info/ruido-de-impacto-diagnostico-estudos-e-solucoes/
[2]https://www.escolaengenharia.com.br/laje/
[3]Nunes, M.F.O.; Zini, A.; Pagnussat, D.T. Desempenho Acústico de Sistemas de Piso: Estudos de Caso Para Isolamento ao Ruído Aéreo e de Impacto.Revista Acústica e Vibrações n. 46. 2014.
[4]Klippel, S.; Labres, H.S; Pires, J.R; Bolina, F.L; Oliveira, M.F. Desempenho acústico em um edifício residencial: classificação superior pela NBR 15575. Revista Acústica e Vibrações. n. 48. 2016.
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