ACÚSTICA SUSTENTÁVEL – MITO OU REALIDADE?
A sustentabilidade ecológica é um dos desafios globais mais importantes que se colocam perante nós num futuro próximo. O ritmo galopante do desenvolvimento humano ameaça perigosamente a sustentabilidade do nosso planeta. Tendo em conta que é o único que temos, urge tomarmos providências o quanto antes para que não seja tarde demais. E essa mudança de paradigma começa em nossa casa, nos mais pequenos gestos que tomamos, num efeito-borboleta que parte do particular para o geral. Afinal, quando podemos dizer que um material é sustentável?
Além disso, a adoção de comportamentos e atitudes mais verdes tem que ser assumida em todas as áreas da nossa vida. E isso inclui a construção civil, em todas as suas vertentes. Incluindo a acústica de salas. E é aqui que nós entramos. Primeiro que tudo, há que se entender o que são matérias-prima ecológicas. Estas são produtos que podem ter origem artesanal ou industrial, que sejam não poluentes, atóxicos e benéficos para o meio ambiente e para a saúde do ser humano. Estes ecoprodutos contribuem para um menor impacto na natureza e, consequentemente, para um maior desenvolvimento sustentável.
Como é sabido, o isolamento acústico comporta vários benefícios para o ser humano. Este tem como objetivo diminuir ou eliminar a passagem de ruído do interior de um ambiente para os ambientes vizinhos, melhorando o conforto das pessoas. Mas também promovendo uma maior eficiência energética, visto que o isolamento acústico está fortemente ligado ao isolamento térmico. Gostaríamos de lembrar que o isolamento acústico se dá em ambos os sentidos, ao evitar também que o ruído externo (ou ambiental) entre em um local fechado. Já o tratamento acústico é a propriedade de conforto interno de um ambiente. Portanto, o auxiliando na compreensão das palavras e favorecendo a música. As características da sala como geometria e materiais acústicos podem evidenciar as sílabas e passagens do arranjo sonoro, melhorando a acústica da mesma.
Quando se opta por um material acústico isolante, convém avaliar a sua eficiência, a sua sustentabilidade e também a sua durabilidade, uma vez que depois de incorporado no edifício, deve permanecer o máximo de tempo sem necessidade de substituição ou manutenção. A tecnologia diz-nos que os melhores materiais isolantes acústicos são rígidos e pesados. Já os melhores em termos de absorção sonora em termos de tratamento acústico são os fibrosos ou porosos. E o mercado dos ecoprodutos acústicos disponibiliza várias opções, de acordo com as necessidades dos clientes e construtores.
Um dos mais populares, principalmente na europa, é o Aglomerado de Cortiça Expandida, que tem uma grande capacidade de absorção de ruído e é ideal para a correcção acústica de ambientes que exigem qualidade e requinte. É utilizado normalmente em salas de espectáculo, concertos ou reuniões, por exemplo. Em sistemas de isolamento acústico, no entanto, a cortiça pode ser combinada no miolo de um sistema tipo sanduiche com concreto de cada lado.
Mas não é o único material sustentável. A um nível mais específico, a Sound Soft da Aubicon, é uma manta acústica cem por centro reciclável, já que é produzida a partir das pneus reciclados ou de restos de borracha resultantes do seus próprio processo de produção. Essa é uma das mais utilizadas solução para isolamento acústico em pisos de edifícios de habitação, sendo que evita o ruído de impacto, ou o conhecido som do salto alto.
Também cem por cento sustentável é a manta acústica a partir de lã de poliester Isosoft Piso, ou Ecofiber floor, ou ainda a FlexSilenzio, que tanto pode ser utilizada em edifícios habitacionais como comerciais. Produzidas a partir de garrafas PET, este é um produto extremamente ecológico e igualmente eficiente, que pode ainda ser utilizado na cobertura das construções, promovendo igualmente o isolamento térmico. É de lembrar que uma garrafa PET demora mais de 100 anos para desaparecer na natureza, sendo assim reutilizada num produto extremamente amigo do ambiente. Um produto similar é a manta de polipropileno expandido que com apenas 2 mm se consegue atender a norma de desempenho de pisos em edificações residenciais.
Finalmente, nos últimos anos estudos têm indicado que a fibra de bananeira, assim como a fibra de coco, também promovem uma boa absorção acústica. Esta é uma solução tanto de eficaz quanto de econômica, com um baixo custo de produção no mercado brasileiro. Apesar deste processo já estar patenteado para ser utilizado em escala industrial, infelizmente ainda não é uma solução muito utilizada na construção civil.
A figura ilustra um material fabricado para estudo na UFPA a partir da fibra de coco acima, e uma amostra de material poroso em melamina abaixo.
Ao contrário do que muita gente pensa, é possível construir de forma sustentável, mantendo os mesmos níveis de qualidade, eficiência e preço. Aliás, valer-se de ecoprodutos é uma tendência cada vez maior do mercado global, à medida que as pessoas vão tomando consciência da necessidade de adotarem um comportamento mais responsável perante o mundo. Ao optar pelo isolamento acústico ou tratamento acústico, opte sempre por um material que seja cem por cento sustentável e dê preferência pela matéria prima local. Uma vez que, além de contribuir para melhorar o meio ambiente, estará igualmente a reduzir os custos de sua obra. Isso ocorre ao reduzir o valor do frete e do combustível usado no transporte do material. Ao mesmo tempo que o material sustentável melhora a eficiência e apelo comercial da construção.
Autor: Pablo Serrano
Uma preocupação que não pode passar batida é a análise do material via normas de combate a incêndio. Principalmente estes materiais de fibras naturais. Mas ficamos atentos para usar mais destes materiais até para incentivar a industrialização e reutilização dos mesmos. Imaginem o uso mais intensivo de materiais reciclados da garrafa PET? Esta, qdo indevidamente descartada, causa um impacto no meio ambiente que é enorme.