Estúdios de gravação musical que se destacam no Brasil – e como se inspirar na acústica deles
Imagem: The Magic Place
Espaços de gravação nacionais mostram que é possível adotar diferentes métodos para atingir a melhor qualidade acústica
Manifestação artística e cultural fundamental, a música nos encanta desde a pré-história – como demonstram as flautas, harpas e outros instrumentos datados em até 60 mil A.C. já encontrados por historiadores. A própria palavra “música” tem origem na Grécia Antiga e quer dizer “a arte das musas”, uma arte que consiste em combinar diferentes sons e ritmos de maneira harmoniosa.
Promover a qualidade do som para amplificar a experiência sonora sempre foi uma necessidade humana, vide a preocupação com a acústica que os teatros da própria Grécia Antiga revelam. Se já era difícil em tempos remotos, obter qualidade de som nas populosas, modernas e barulhentas cidades atuais muitas vezes requer estúdios de gravação musical. E cada estúdio pede um projeto acústico específico para si.
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Um bom projeto dá ao estúdio uma acústica aconchegante e um som vivo, porém equilibrado. Assim, é preciso levar em conta uma série de fenômenos acústicos que somente um especialista na área é capaz de solucionar ou evitar, como o tempo de reverberação, o efeito de som metálico (Flutter Echo) e as ondas estacionárias, além da escolha dos difusores e dos revestimentos ideais para as paredes e o forro.
Se em outros países existem estúdios de gravação musical mundialmente famosos, como o icônico Abbey Road Studios, em Londres, o Brasil não fica para trás. Alguns dos mais emblemáticos estúdios de gravação musical – como a Toca do Bandido, no Rio de Janeiro, e o Sonastério, de Belo Horizonte – ficam em terras tupiniquins. Locais que são perfeitos para inspirar os melhores projetos acústicos.
Estúdios nacionais de gravação musical que podem servir de inspiração
Com o reconhecimento de grandes profissionais da música e da acústica devido ao alto grau de qualidade que apresentam, os mais famosos estúdios de gravação musical do Brasil trazem alguns diferenciais e curiosidades que são uma verdadeira inspiração para quem atua na área. Conheça alguns:
Sonastério
A 30 quilômetros de Belo Horizonte e construído entre as montanhas de Minas Gerais, o Sonastério é um estúdio que oferece a experiência de isolamento e imersão para os artistas – um “mosteiro do som”, como definiu um dos responsáveis.
Criado pelo arquiteto João Diniz, o estúdio de grande porte é uma obra de arte de concreto e vidro com vista privilegiada. O projeto acústico ficou a cargo do engenheiro acústico Renato Cipriano que, para obter uma “geometria perfeita” e fazer o Sonastério “soar tão bem quanto é bonito”, calibrou com precisão cada metro quadrado.
Divulgação / https://sonasterio.com/experiencia-sonasterio/
Os estúdios Mosh são localizados no bairro Água Branca, em São Paulo, e são capazes de realizar várias produções simultâneas sem que os diversos sons produzidos atrapalhem os artistas.
São cinco estúdios de gravação (A, B, C, E e VIP, cada um com características específicas para cada tipo de gravação) que contam com sistemas de masterização e pós-produção completos.
Com um projeto acústico reconhecido e suporte da tecnologia, os estúdios Mosh se orgulham por unir o analógico e o digital.
Divulgação / http://www.mosh.com.br/wearemosh/
Construído no meio da mata em um bairro afastado do centro do Rio de Janeiro, a Toca do Bandido é um dos estúdios mais famosos do Brasil.
Grandes artistas nacionais – O Rappa, Maria Rita, Adriana Calcanhoto – já gravaram ou ensaiaram no espaço, que também abriga artistas emergentes e pouco conhecidos e oferece diferentes técnicas de produção e gravação musical.
O estúdio também dispõe de hospedagem com quatro quartos e um pub próprio.
Divulgação / https://www.facebook.com/tocadobandidosite/
Situado no famoso bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, a Cia dos Técnicos é um confortável estúdio de gravação musical que costuma receber artistas do calibre de Neguinho da Beija-Flor, Alceu Valença, Zezé Di Camargo e Elza Soares.
Eles são atraídos principalmente pelo ótimo projeto acústico e pela qualidade dos equipamentos de mixagem e masterização do estúdio.
Divulgação / https://www.facebook.com/Ciatec/
Criado por Renato Pimentel, engenheiro mecânico e ex-aluno do curso EPBA – ou Experts Program of Bulding Acoustics, o programa de treinamento sobre Acústica de Edificações do Portal Acústica –, o Magic Place é considerado um dos melhores estúdios de gravacão musical de Santa Catarina.
O espaço conta com três salas de gravação, três salas de mixagem, um ambiente próprio para masterização, tecnologia de ponta e qualidade acústica indiscutível.
Como especialista no tema, o próprio Pimentel promove o tratamento e a adequação acústica de locais também fora do The Magic Place: “o curso EPBA foi muito importante para os projetos acústicos que realizo em outros ambientes”, define o proprietário do estúdio.
Veja o depoimento do Eng. Mec. de Som Renato Pimentel.
Divulgação / https://www.themagicplace.com.br/
Critérios que devem ser levados em conta na hora de montar um estúdio de gravação musical
Existem alguns elementos capitais que precisam ser levados em conta quando se monta um estúdio de gravação musical. Não só é preciso proteger o ambiente contra ruídos externos como também é necessário isolar e condicionar acusticamente o som produzido lá dentro – afinal, além de manter o som interno equilibrado é preciso evitar que ele “fuja” das salas de gravação e do próprio estúdio, poupando a vizinhança.
Para cumprir esta tarefa é preciso ter cuidado especial com os elementos cruciais dos estúdios de gravação musical: as paredes, o piso, as portas, as janelas e o teto.
– Paredes – Um sistema de paredes espessas e robustas, com as cavidades preenchidas com material absorvedor, é o mais indicado para estúdios de gravação, mas cada estúdio terá uma necessidade e isso não é regra geral. Paredes duplas com espaçamento entre elas também são uma opção para isolar o som aéreo em baixas frequências. Em termos de condicionamento é preciso tomar cuidado com o som metálico do Flutter Echo, que é causado justamente pela reflexão do som entre as paredes paralelas em um efeito ping-pong. Isso pode ser resolvido alterando a inclinação das paredes ou usando difusores.
– Portas e janelas – Elementos que costumam ser o “ponto fraco” dos estúdios de gravação, uma vez que facilitam a fuga do som, as portas e as janelas precisam apresentar um desempenho acústico superior. Isso pode ser conseguido com o uso de vedações, batentes de borracha, antecâmaras e portas duplas. No caso das portas é muito difícil achar bons fornecedores, e no caso de esquadrias os vidros laminados são bem utilizados, sendo que a esquadria exige encaixes específicos para estúdios, evitando vazamento pelas pequenas frestas.
– Teto – O teto do estúdio é um elemento-chave para criar uma barreira que isole o som e também evite o ruído de vibração (via estrutural) de outros andares da edificação. Com opções de maior ou menor espessura, a laje do estúdio precisa ser escolhida de acordo com a necessidade de isolamento que o local pede; já o forro do estúdio deve ser reforçado com os materiais adequados para ser capaz de suportar grandes níveis de pressão sonora e em geral é pesado, exigindo uma estrutura que sustente o mesmo.
– Piso – Soluções baseadas em pisos flutuantes são muito utilizadas, além disso instrumentos como baterias acústicas em geral recebem praticáveis que permitem reduzir a vibração que é encaminhada ao piso. Existe uma extensa gama de pisos flutuantes suspensos com molas, elevados, com contrapiso e manta, entre outros que vão depender da estrutura do estúdio e necessidade de isolamento.
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