Entrevista: Entenda o que é Plataforma BIM e como a acústica se beneficia dela
Para entender como funciona a integração de projetos na construção civil pela Plataforma BIM, o Portal Acústica convidou o estudante de engenharia civil Alexandre Eliseu da Silva para responder algumas perguntas. O quase Eng. Alexandre é estagiário da empresa UP PLANEJAR EMPREENDIMENTOS e trabalha na área de orçamentação em plataforma BIM utilizando modelagem 3D, além de já ter sido intercambista na Austrália, onde começou a desenvolver esse interesse.
Alexandre, em primeiro lugar queríamos entender o que é exatamente a plataforma BIM?
“O BIM é uma ferramenta que permite a união de informações, controle de processos e interpretações em softwares com modelagem 3D. Ou seja, através da compatibilização de dados, projetos e planejamentos, que abrangem toda construção civil, a ferramenta tenta alcançar, ao máximo, o modo com o qual a construção será realizada.
As evoluções dos softwares têm intensificado a inserção da plataforma BIM no mercado, o qual tem como objetivo facilitar e integrar a concepção de projetos em uma construção. BIM não está vinculado apenas a um software. Building Information Modeling, como todos conhecem, é um processo que tem início desde a concepção do projeto, enquanto ainda são coletadas informações cruciais para o desenvolvimento da ideia até a operação do produto final.
Podemos defini-lo como uma plataforma, devido à maneira com a qual as informações são interligadas entre os responsáveis pelo projeto. Posteriormente, na modelagem utilizando os softwares específicos de cada especialidade, são definidas relações paramétricas que irão facilitar qualquer alteração do modelo em tempo real.
Quando é gerado um elemento em um software dentro do plano BIM, esse irá possuir todas as informações necessárias para sua real concepção e aplicação, razão pela qual, há a necessidade da modelagem de maneira específica, com muito mais complexidade e obtendo todos os parâmetros do material e não só da geometria. Esse processo irá evitar qualquer problema integrado à falta de informações, visto que a modelagem é feita a partir das próprias informações. Ainda podemos definir o BIM como uma ferramenta de gerenciamento, a qual será utilizada durante toda vida útil da obra.”
Você falou que “BIM não está vinculado apenas a um software”. Então, quais softwares podem contar com essa plataforma?
“Empresas com foco em design de softwares têm mostrado um crescente interesse na adequação de seu trabalho ao mundo BIM. Alguns softwares mais conhecidos pelos usuários dessa plataforma são o ArchiCAD, mais antigo programa vinculado a plataforma, e o Revit, software amplamente difundido por tratar-se de um programa da empresa Autodesk. Há outros softwares como o Bentley Architecture, o qual é construído sobre a plataforma Microstation (CAD), e Vectorworks, da Nemetschek, programa em BIM, também com modelagem em 3D, porém não tão disseminado quanto os anteriores. Esses são conhecidos por serem intuitivos e cada um deles possuem suas respectivas vantagens e desvantagens.
Há também alguns softwares voltados para a visualização de projeto, os quais, além de facilitar uma análise da obra, podem detectar incompatibilidades e gerar uma maior organização do projeto.
A atual evolução é ainda mais visível quando notamos que esses geram e exportam arquivos em extensão IFC (Industry Foundation Classes), criado pelo grupo Building Smart. Esse formato de arquivo para dados em arquitetura aberta possui uma linguagem simplificada e está sendo cada vez mais implantada em softwares para troca de modelos entre plataformas. Um desses exemplos é o Eberick V10, lançado recentemente, já possui a opção de exportação em .ifc, o que facilitará a integração no universo BIM.
E o Autocad? Este software mais usado pelos engenheiros civis não participa da plataforma?
O AutoCad é apenas uma substituição de folhas vegetais, lápis e canetas. O BIM visa maior facilidade de visualização, acúmulo de informação, e tratamento de especificidades, ou seja, o AutoCad não se enquadra nos conceitos da plataforma e apesar de ser um software muito usado não faz parte dela.
No meio de tantos softwares que facilitam a área de construção civil, qual seria o diferencial e a importância desta tecnologia?
Incompatibilidades, atrasos, alterações de projeto, despesas que não estavam previstas são alguns dos problemas recorrentes oriundos da falta de informação e integração entre todas as partes de um projeto. A falta de detalhes e conhecimentos tende a extinção com o avanço do BIM, o qual tenta proporcionar maior precisão e acúmulo de dados para uma completa modelagem e adequada operação, tudo realizado em um menor tempo.
Como todas as áreas, inclusive a acústica, pode se adequar a essa nova realidade virtual? Dê-nos um exemplo de como compatibilizar um projeto acústico com um hidrossanitário?
Como é observado atualmente, ainda é um desafio encontrar pessoas que tenham experiências significativas com a plataforma BIM, complicando essa inserção nas diversas áreas que poderiam aderir esse conceito. O conhecimento está se disseminando e a internet tornou-se um dos melhores meios para pessoa adequar-se a esse progresso.
A engenharia acústica é um dos maiores beneficiados quanto à evolução da maneira de pensar em projetos. Projetistas estarão cientes das necessidades e utilizarão o BIM para conseguir suprir essas questões, coletando informações e adequando os modelos à inclusão de projetos acústicos. Não haverá remediações devido à falta de conhecimento na concepção de projeto, tornando um projeto acústico mais preciso e barato do que seria nos casos de má elaboração ou falta desses específicos projetos. O BIM proporcionará a inserção de todas as informações, fazendo com que todos os projetos trabalhem da melhor maneira possível, extinguindo incompatibilidades e quaisquer problemas.
Por exemplo, quando utilizado o REVIT, elementos, ao serem modelados, são agrupados em diferentes famílias. Neste, e em alguns outros softwares da plataforma, existe uma função denominada “clash detection”, a qual tenta evidenciar quais locais ocorreram erros na modelagem ou no projeto, como um cano atravessando uma viga. Assim, quando há esses choques que poderiam ocasionar futuras preocupações, alguns softwares em BIM avisam essas incompatibilidades, as quais podem ser solucionadas com devida antecedência.
O mesmo pode ser observado em um projeto acústico, que teriam incompatibilidades evidenciadas com maior facilidade. Se uma solução acústica projetada é incompatível com qualquer outro elemento de outro projeto e for, devidamente, modelado em software BIM, esse irá ratificar a existência desses problemas e, assim, poderá ser adotada soluções mais adequadas.
Por enquanto, só vimos vantagens com a plataforma. Existe alguma desvantagem ou dificuldade em relação a essa plataforma?
A maior dificuldade dessa plataforma reside no termo “interoperabilidade”, o qual é definido como a comunicação que os softwares em BIM terão entre si. Há muito conflito de interesses das empresas com relação à utilização dessa plataforma, pois criar esse tipo de conectividade facilita a migração de softwares e, consequentemente, a possível perda de usuários para outras empresas.
A resposta para isso surgiu com o formato IFC que tenta integrar softwares, fazendo com que modelos possam ser utilizados em diferentes softwares. Contudo, há uma significativa perda de informação nessa transição, são gerados elementos mais genéricos, com significativa perda de propriedades/funcionalidade e ainda há erros em detalhamentos quando realizada essa mudança, os quais não podem ser corrigidos devido à restrição para qualquer alteração de elementos, perdendo um pouco as características BIM.
Já fazem dois anos que ouvimos pela primeira vez do BIM. No entanto, ainda parece que os profissionais da construção civil ainda não se atualizaram para utilizar a plataforma. Você saberia me dizer por que ainda há tanta inércia quanto à mudança para o BIM?
Um dos maiores problemas na implementação dessa plataforma é a inércia que muitos engenheiros civis e arquitetos possuem em manter-se naquilo que já tem domínio. O medo de tentar experimentar esse avanço devido às barreiras que podem encontrar no caminho criam uma aversão ao que poderia ser um projeto mais preciso, rápido e barato. O AutoCAD, software mais disseminado na construção civil, é extremamente abrangente, pois há a possibilidade de trabalhar com linhas, pontos e classificá-los da maneira como desejar. Mas em BIM, você sabe exatamente o que será desenhado e pode atribuir todas as informações necessárias àquele elemento, como por exemplo, no REVIT Architecture, pode-se definir uma família de parede e atribuir quaisquer componentes em sua estrutura (tijolo, chapisco, reboco, outros tratamentos, pintura). A partir desse detalhamento são gerados todos os quantitativos e detalhes de planta necessários.
Quando utilizados em uma área como a de orçamentação, o AutoCAD já está um pouco retrógado. Nos softwares em CAD, os quantitativos seriam realizados a partir de linhas, áreas e outras dimensões, o que ocasionaria perda de tempo no processo e grande possibilidade de erros. Com o uso da plataforma, tudo é mais rápido e interativo já que a modelagem é, predominantemente, realizada em 2D e, automaticamente, está modelada em 3D. Para fins de quantitativos, quando atribuído a uma parede uma respectiva especificação, como, por exemplo, uma pintura acrílica, o software Revit seria capaz de contabilizar quantos m² de tinta seriam necessários para a execução de tal serviço.
Você acha que os profissionais estão prontos para se atualizar? Onde podemos encontrar cursos de utilização da plataforma BIM?
Não há como comprovar que os engenheiros e arquitetos estão, ou não, prontos para essa evolução, porém é nítido que essa atualização será imposta contra eles nos próximos anos. Aqueles já cientes desse aprimoramento, e procurando evoluir, serão beneficiados nessa corrida.
Há diversos cursos on-line e pode-se encontrar diversos vídeos ensinando detalhadamente como projetar nesses softwares, gratuitamente. Outros meios para esse desenvolvimento são os cursos presenciais, os quais estão em número crescente. Motivo pelo qual, meu amigo e eu, estamos iniciando um curso completo e 100% presencial para modelagem em REVIT.
Com essa ferramenta que integra todos os projetos, apresentando um diferencial único, fiquei convencida da importância da plataforma BIM. Mas quanto a você, Alexandre, realmente acredita que a plataforma BIM tenha futuro na construção civil?
Projetos com muito mais informação, com problemas minimizados, e sem alterações em obra. É evidente que haverá diminuição de custos e maior adequação ao conforto exigido pelos compradores. Os engenheiros e arquitetos terão mais facilidade de visualização e irão criar um produto diversificado com mais facilidade e precisão. A plataforma é usada para acumular informações pertinentes e sanar qualquer incompatibilidade entre projetos. BIM, a meu ver, é o futuro.
Gostou do assunto? Então que tal se informar mais sobre acústica em edifícios residenciais baixando o nosso e-book exclusivo!
Ingrid Knochenhauer de Souza – Eng. Civil especializada em acústica
Pablo Giordani Serrano – MEng. Mecânico especializado em acústica
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Prezados Srs.
Recebi varias ofertas pela internet de cursos de uma escola de SP, para cálculo estrutural que utilizam para modelagem o REVIT e outras plataformas, achei muito interessante a abordagem do Eng. Alexandre pois fez uso do CATIA V5 ( modelador 3D) que agiliza muitos processos de usos para cálculos estruturais de aeronaves, veículos, manufatura e outros processos onde se pode tirar do modelo toda informação necessária e propriedades físicas e geométricas para outros fins.
Na industria aeronáutica durante o processo de desenvolvimento do projeto de novos produtos se utiliza de análise de cresh onde em uma sala projeta os modelos 3D da aeronave com todos os sistemas, cablagens elétricas , tubulações, instalações de todos os componentes como piso acentos e outros componentes para check e verificação de interferências de montagem com cada time de projeto, gerando relatório com as respectivas áreas e responsáveis evitando retrabalho de componentes durante as instalações dos mesmos na montagem final no protótipo, portanto posso confirmar a redução de custos e tempos de análise e distribuição de informações para outros times como por exemplo análise de ruídos.
Em aviação executiva utiliza se de armários e mobiliários no seu interior com gavetas para talheres estes devem ser bem acondicionados para evitar ruídos durante voo, pouso e decolagem e turbulências quando o processo vibratório é intensificado gerando reclamações de clientes.
Muito interessante Hilton! Obrigado pelo comentário muito pertinente. Com certeza gostaríamos de receber mais informações desse tipo. Se possível nos encaminhe os envolvidos em tais cursos para mantermos contato e quem sabe vir a oferecer cursos desses para nossa comunidade. Obrigado novamente e por favor continue comentando…