Mapas de ruído: casos brasileiros de sucesso
O que são mapas de ruído?
Mapas de ruído são ferramentas utilizadas para a avaliação do ruído ambiental urbano. Os valores do mapa, dados pelo nível de pressão sonora equivalente (Leq), ponderado em A, dB, são geralmente utilizados em Normas e legislações relativas ao ruído, sendo uma média da energia acústica feita ao longo de horas, conforme o período do dia a ser analisado (diurno, noturno, 24h, etc.).
A elaboração dos mapas é baseada no levantamento das fontes sonoras da área urbana estudada, a partir de medições in-loco para calibração do modelo, no levantamento de dados topográficos, da morfologia do ambiente construído e, por fim, modelagem computacional em software específico. A modelagem é baseada em técnicas matemáticas para avaliação do ruído de tráfego rodoviário, considerando a inserção dos dados de entrada citados anteriormente nas equações matemáticas influenciadoras das respostas da simulação.
Os softwares usualmente utilizados são o Predictor, o SoundPLAN, o CadnaA e o iNoise. Estas ferramentas têm por comum objetivo a modelagem do ruído ambiental, apresentado diferenças no grau de facilidade/dificuldade de maneabilidade da interface, no tipo de fonte que se deseja avaliar, custo, a formulação utilizada, dentre outras. Os métodos são semi-empíricos em geral, não sendo um cálculo preciso e custoso computacionalmente, como softwares de cálculo numérico usando elementos finitos.
O Predictor, por exemplo, baseia-se na formulação CRTN (cálculo de ruído de tráfego e rodoviário), ISO 9613, CNOSSOS-EU e algoritmo de triangulação rápida. É uma ferramenta bastante utilizada para fins educacionais, dada a facilidade de manuseio e acessibilidade no investimento em comparação aos outros softwares.
Fonte: https://www.emsbk.com/predictor-lima/
O CadnaA apresenta grau de dificuldade de maneabilidade e custo mais elevados. Consiste em uma ferramenta de diversos módulos para avaliação da propagação do ruído aeronáutico, rodoviário e ferroviário, a partir de métodos baseados, por exemplo, na ISO 9613, NMPB-Routes, TNM, CNOSSOS-EU, dentre outros. O software baseia-se na função DTM (digital terrain model), sendo bastante utilizado pelos países-membros da comunidade europeia.
O SounPLAN, assim como o CadnaA, também apresenta grau de dificuldade de maneabilidade e custo elevados. O software baseia-se em mais de 50 Normas e regulamentações para o cálculo da propagação do ruído em campo livre de acordo com a fonte.
A partir dos mapas, produz-se uma simulação do ambiente urbano, na qual é possível identificar as áreas mais afetadas ou protegidas acusticamente. Ao indicarem a localização de pontos críticos, os mapas possibilitam a busca por soluções de mitigação e controle do ruído ambiental.
Os software iNoise é um software com versão gratuita para uso educacional e para pequenos modelos, o qual tem uma interface muito similar ao Predictor e aplica também a ISO 9613, sendo muito amigável. Se você deseja conhecer mais sobre esse software, acesse esse outro artigo nosso somente sobre o iNoise. Clique aqui.
Os resultados obtidos na modelagem computacional, a partir do modelo matemático de predição do ruído escolhido, podem ser apresentados em mapas 2D/3D, tabelas e gráficos, a depender do software utilizado. No Brasil, a inexistência de um modelo de cálculo para predição do ruído ambiental implica a utilização de modelos internacionais. Você conhece algum modelo ou padrão brasileiro que queira compartilhar conosco?
A gestão do ruído urbano assume atualmente fundamental importância na definição de políticas de planejamento futuro. Recentemente, os mapas de ruído são as principais ferramentas globalmente utilizadas pelas autoridades responsáveis pela elaboração de políticas e planos de ação para a gestão do ruído urbano. Isto se deve, sobretudo, ao fato da utilização dos mapas acústicos para avaliação sonora urbana levar a resultados eficientes de análise objetiva, constituindo-se uma ferramenta voltada para o cumprimento de parâmetros normativos.
A utilização dos mapas pelos países-membros da comunidade europeia
Aos países-membros da comunidade europeia, a Diretiva 2002/49/CE torna obrigatória a utilização de mapas acústicos e a adoção de planos de ação para gestão da poluição sonora em aglomerados com mais de 250.000 habitantes.
Países como a França e a Espanha já estão à frente na implantação sistemática do mapeamento de ruído como ferramenta de avaliação sonora urbana capaz de auxiliar planos estratégicos de ação para controle do ruído ambiental. A informação dos mapas é disponibilizada à população em plataforma online, acessível para todo cidadão. Na França, a plataforma online constitui um meio pelo qual o cidadão pode acessar informações sobre o ruído em quaisquer localidades, bem como as ações concretas colocadas em prática pelo poder público para atenuação do incômodo ao ruído.
Casos brasileiros de sucesso
Ainda que inexista uma política nacional efetiva de avaliação e gestão do ruído como na Europa, a recente iniciativa do poder público mostra que o tema do impacto ambiental sonoro nas grandes cidades brasileiras vem sendo objeto de notoriedade.
O mapeamento acústico está sendo progressivamente utilizado no Brasil, deixando cada vez mais de estar restrito ao âmbito acadêmico e ganhando destaque de forma sistemática pelas políticas de planejamento urbano. A cidade de Fortaleza, no estado do Ceará, é um exemplo disto, apresentando um programa de mapeamento sonoro realizado pela Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano.
Níveis de ruído do Terminal Rodoviário de Messejana, em Fortaleza
Fonte: site da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica)
A elaboração da Carta Acústica de Fortaleza, como ficou conhecido o programa de mapeamento acústico, foi motivada pelas frequentes reclamações da população em relação à poluição sonora, e inspirada no mapeamento acústico de Lisboa, resultou de um trabalho da Secretaria do Meio Ambiente de Fortaleza e José Luis Bento Coelho, especialista em Acústica do Instituto Superior Técnico de Lisboa.
O programa teve por objetivo diagnosticar a poluição sonora no município e propiciar as informações para melhoria da qualidade sonora da cidade e, consequentemente, a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. O viés participativo do programa foi preconizado, reforçando a importância do aspecto colaborativo e acessível do instrumento de avaliação sonora.
Outra iniciativa de relevância foi a discussão recente sobre a incorporação do mapeamento de ruído no Plano Diretor da cidade de São Paulo. O Projeto de Lei 75/2013 previa a elaboração do mapa de ruído urbano enquanto instrumento para o Poder Público Municipal visando, dentre outros, conscientizar a população sobre os efeitos do ruído na saúde humana, identificar a diversidade de fontes emissoras de ruído, fomentar o uso de novas tecnologias para mitigar as emissões de ruído acima dos níveis estabelecidos pela legislação e normas vigentes, difundir campanhas educativas sobre as fontes de emissões de ruído e suas responsabilidades, elaborar o Plano de Ação para Redução de Ruídos, e realizar consultas públicas junto à população. A inviabilidade do projeto, contestada pelo então prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), foi justificada, dentre outros motivos, pelo prazo limitado para elaboração dos mapas. Existe, porém, o Mapa de Ruído Urbano Piloto de São Paulo, elaborado pelo grupo de trabalho GT Mapa de Ruído, do Comitê Acústica Ambiental que vem trabalhando na definição das diretrizes para melhorar o mapeamento acústico assim como a modelagem da área piloto.
Fonte: http://www.proacustica.org.br/publicacoes/artigos-sobre-acustica-e-temas-relacionados/versao-piloto-do-mapa-de-ruido-lancado-durante-o-inad-sp-2018.html
Fonte: zhttps://www.contramarco.com/single-post/2017/11/07/MAPA-SONORO-DA-CIDADE-DE-S%C3%83O-PAULO
Os casos de Fortaleza e São Paulo demonstram a importância cada vez maior da incorporação sistemática dos processos de gestão do ruído ambiental pelas políticas de planejamento e ordenamento urbano no Brasil. Se avaliarmos a crescente notoriedade da área de acústica no Brasil nos últimos anos, ainda que lenta e resguardada pelo tradicionalismo e limitações intrínsecas ao funcionamento do setor público, é possível estimar a tendência promissora de conquistas e casos de sucesso cada vez mais frequentes na área.
Você já conhece o iNoise?
Fonte: https://dgmrsoftware.com/products/inoise/gallery/
iNoise é um software gratuito que gera mapas de ruído para determinada quantidade de edificações. Confira o vídeo tutorial de como instalá-lo: https://www.youtube.com/watch?v=176Om2sn0MA
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Autora: Bruna Croce
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[…] pode se inteirar sobre os mapas sonoros e a classes de ruído nas fachadas conferindo o artigo “Mapas de ruído: casos brasileiros de sucesso” publicado no blog Portal Acústica dia 11 nov […]
[…] Para saber mais sobre mapas de ruído, leia o artigo “Mapas de ruído: casos brasileiros de sucesso”, postado no dia 11 de novembro de 2018 no blog do Portal. Acesse aqui: https://portalacustica.info/mapas-de-ruido-casos-brasileiros-de-sucesso/ […]
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